19/04/2009

Resumo da Sessão "Educação: pela exigência, o mérito e o direito de escolha"

A sessão do Fórum da Verdade dedicado ao tema “Educação: pela exigência, o mérito e o direito de escolha” decorreu em Aveiro, a 16 de Abril, e contou com uma elevada participação. Os três oradores abordaram a actual situação da Educação, num cenário em que se verifica que não há avaliação correcta nem dos alunos, nem do sistema, e que não existe nem exigência, nem uma cultura do mérito.


José Manuel Canavarro: “defendo um curriculum nacional. O curriculum é qualquer coisa com que o governo e o Ministério da Educação se devem preocupar muito mais do que com o funcionamento das escolas”

José Manuel Canavarro, docente da Universidade de Coimbra, e primeiro orador neste Fórum, abordou por um lado questões pedagógicas e, por outro, as de organização do sistema ou de administração educativa.

O docente optou por “fazer as coisas pela positiva”, e guardar “ para mais tarde as medidas emblemáticas deste governo que merecem crítica”.

Dessa forma, adiantou que “ há um aspecto que é fundamental e que deveremos todos, sociedade interessada na Educação, cuidar, ou seja, que as pessoas, designadamente os jovens e as crianças conheçam mais e aprendam melhor”.

Para isso, deu algumas sugestões muito rápidas, considerando que “ Portugal tem um sistema de administração da educação super centralizado”. Lembrou que “somos dos países da OCDE, mais centralizados no que diz respeito à gestão da Educação, e há provavelmente um aspecto muito importante da gestão educativa que é o curriculum que alguns países menos centralizados do que nós têm vindo nos últimos anos a recentralizar”.

“Eu defendo um curriculum nacional. O curriculum é qualquer coisa com que o governo e o Ministério da Educação se devem preocupar muito mais do que com o funcionamento as escolas. Em matéria curricular considero que no segundo e terceiro ciclo é urgente mexer. Sem um curriculum focalizado não conseguimos obter aprendizagens significativas”, considera.

José Manuel Canavarro refere que “ temos no segundo e terceiro ciclo um curriculum às migalhas, com os alunos com treze disciplinas e mais três áreas não curriculares, o que implica que fiquem com poucas horas para o que deviam ter de Matemática, Língua Portuguesa e de História – que é um saber extraordinariamente relevante pois tem a ver com o país e com a identidade nacional – para a Geografia e conhecimento do território, o Inglês e as Ciências como matrizes mais importantes de um curriculum”. Ou seja, considera que os alunos “ perdem muito tempo lectivo com áreas que podem ser acessórias ao curriculum. Se temos um sistema centralizado devemos pois fazer aquilo que é fundamental e que o Canadá e os EUA fizeram” adianta.

“Defendo um curriculum nacional com pouca flexibilidade em si mesmo, e muito empenho para que as escolas desenvolvam projectos, mas que isso não implique que esses estejam necessariamente na matriz curricular” e frisa que neste domínio há “ grande urgência no segundo e no terceiro ciclo e, também, alguma no primeiro, onde não foi feito nada de especial”.

Falta monitorização dos alunos

O docente realça que “outro aspecto é o conhecimento dos alunos. Portugal tem um sistema de monitorização dos alunos muito fraco quando comparado com outros países, ou seja sabe muito pouco sobre os alunos”.

Refere que uma associação com a qual colabora tem uma base de dados sobre cerca de 20 mil alunos, e “sobre os seis mil com quem estamos a trabalhar verificamos que uma medida pedagógica que são as aulas de recuperação tem um efeito muito reduzido sobre o seu sucesso”.

Pelo contrário, refere que “ há uma medida que tem um efeito muito forte que é a explicação, ou seja uma aula suplementar para um, dois ou três alunos”. Defende, assim, que “ é por aí que a escola do Estado devia repensar as sus modalidades de acompanhamento, percebendo que o estudo individualizado ou em pequenos grupos é aquele que contribui mais para o sucesso, pois é isso que a investigação nos diz”.

Outro aspecto que destaca “tem a ver com o conhecimento de si próprio e das questões de carreira. Desde 1990 que o reforço na orientação escolar e profissional não tem sido feito”.

“Defendo que na orientação vocacional o conhecimento daquilo que pode ser um projecto de carreira, os estudos a prosseguir e as profissões a adoptar deve ser feito a partir do quinto ano, e não apenas no terceiro ciclo”.

José Manuel Canavarro destaca igualmente um outro aspecto que tem a ver com mais família, adiantando ser “ completamente contra a escola durante 24 ou 12 horas”.

“Não concordo com essa medida, pois considero que as famílias devem ter condições para acompanhar melhor os seus filhos, mesmo que o façam na escola seguindo o modelo inglês, em que as escolas estão abertas doze horas, mas os pais passam lá tempo”, refere.

“Temos de associar a politica de família à Educação, para que quase todos os pais possam participar. As escolas devem passar a ser centros de capacitação parental”, sustenta o docente.

Dando um salto rápido para “uma medida que tem a ver com um aspecto de organização pedagógica, e que é a educação de adultos” – que neste governo é um aspecto ancorado nos centros Novas Oportunidades, que são o um sucedâneo dos centros de certificação de competências que se iniciaram perto do ano 2000 – refere que não é “fã desta medida mas reconheço-lhe algumas virtualidades”, apesar de assumir ter “ pena que ela não tenha sido feita numa maior associação e proximidade com empresas”. A esse propósito lembra mesmo que há países que avançaram com este processo de certificação de competências neste modelo como a Dinamarca e Finlândia.

Para José Manuel Canavarro “ se são adultos que estão a certificar competências que adquiriram, era muito importante que o fizessem no seu próprio contexto”, pelo que considera que “ este sistema não devia ter sido escolarizado, mas sim mais empresarializado ou então entregue aos municípios e à sociedade civil”.

O docente analisou outras três áreas de organização do sistema educativo. Desde logo, o facto de que “Portugal tem uma tradição de prestação de contas muito baixa no geral e no sistema educativo em particular. “O nosso modelo é uma confusão, e na Educação pouco se sabe quem prestas contas a quem. Defendo que a avaliação deve ser externalizada, não deve ser desenvolvida pelo Ministério da Educação”, refere.

“Na avaliação de conhecimentos sou claramente a favor dos exames que funcionam como marcadores de desenvolvimento. Os que temos actualmente são suficientes, mas há uma disciplina onde há grande insucesso que é o inglês, que também é uma disciplina crítica. Por isso a sua introdução no ensino básico é uma medida defensável” sustenta.

Quanto à avaliação dos professores José Manuel Canavarro adianta que “ é uma preocupação excessiva, e que deve ser centrada na avaliação da escola e dos seus resultados”. Neste domínio lembra que “ se há que avaliar colaboradores é quem dirige que o deve fazer, mas pode adoptar-se ao modelo de outros países em que há um corpo externo de avaliadores, como em Portugal há um corpo externo de inspectores”.

Já a avaliação da escola “não deve ser feita pela inspecção-geral, pois um inspector não deve ser um, avaliador”, defende. O docente adianta que “ tudo o que é avaliação deve ter uma informação muito acessível aos pais, que tem de perceber aquilo que é a avaliação dos seus filhos”.

Em seu entender “deve também haver uma melhor organização nos recursos públicos” pelo que considera que a existência “ de uma rede una de escolas públicas e privadas ajudava a planificar a educação”. José Manuel Canavarro continua a considerar que as parcerias público-privadas podem ajudar a expandir a rede, e é ainda “ um defensor da municipalização do ensino em dois ciclos, cada um de seis anos, em que o primeiro seria responsabilidade dos municípios”.


Natividade Correia: "as famílias não valorizam a escola e o saber, e olham para a escola como uma espécie de purgatório onde se tem de passar."

“Venho partilhar a experiência no terreno enquanto professora de Matemática e orientador de estágio” referiu logo de início Natividade Correia, professora do ensino secundário de Matemática em Coimbra.

Frisa ter-se “ empenhado na educação e no saber dos alunos” e decidiu vincular a sua intervenção sobre o que se passa nas nossas escolas.

“Questiono-me muito sobre o ensino a começar pelo problema da exigência” refere, questionando “se seremos nós de facto exigentes connosco e com os outros”.

Natividade Correia lembra que “hoje em dia não se aceita a existência de alguém que seja analfabeto”, e que os portugueses têm vivido segundo a regra de que mais vale sê-lo do que o parecer. Em seu entender “é isso que tem acontecido nas nossas escolas, com o modelo de escola inclusiva. Se estamos a incluir uns, estamos a excluir e a amputar outros. E pergunto-me se temos o direito de estar a excluir alguns que ainda podem ser reencaminhados”, questiona.

Para a docente “a ideia da escola inclusiva na sua essência é boa, mas não houve a preocupação de se acautelar os alunos a nível das suas necessidades de aprendizagem, nem se prepararam os professores para trabalharem sobre uma franja tão diferente de alunos que agora regressaram à escola”.

Lembra igualmente que “ as famílias não valorizam a escola e o saber, e olham para a escola como uma espécie de purgatório onde se tem de passar. É um tempo para deixar passar, e é aqui que podemos actuar” frisa.

“Se estivermos um pouco atentos vemos que em Espanha estão a fazer um investimento na aproximação dos alunos às escolas. Devemos também fazer campanhas para valorizar a escola e os saberes. Era necessário mostrar à população de que não basta passar ao fim o ano, e é preciso saber e saber fazer bem” sustenta.

Para Natividade Correia “a avaliação das aprendizagens é outro factor importante, ou seja o ensino por competências e em espiral”. Critica uma situação em que “as coisas vão acontecendo” e afirma “que isso é um erro, pois os conhecimentos fazem parte de um todo, e é necessário que se alicerce o conhecimento de forma sólida e estruturante”.

Já sobre as avaliações alerta “que se está a cometer um erro bastante grave, pois nos critérios de avaliação aparecem 30 % atribuídos ao saber ser e ao saber estar que é algo que se prende com o respeito pelos outros, pelo cumprimento da lei, ou seja valores universais que são intrínsecos à família. Ora não se consegue distinguir um aluno que estudou e tem 52 % de aproveitamento, com outro de 40 %, e que é negativo, pois desde que este seja assíduo e pontual vai ter o mesmo nível do que o outro”.

Em defesa de uma correcta avaliação

Esta é, segundo Natividade Correia a razão para sermos tantas vezes confrontados com a pergunta dos nosso filhos sobre o para quê estudar, se um se esforça e tem a mesma nota de alguém que está a seu lado e teve negativa, e no final tem a mesma classificação. “Penso que isto é um desastre, pois a nota deve funcionar como prémio ou como punição”, refere.

“Avaliar é difícil mas cabe-nos a nós minimizar as injustiças, e valorizar e premiar o mérito e o esforço. Os primeiros anos da escola são essenciais para premiar o esforço, e é necessário que se perceba que estudar não é de modo algum brincar, e que estudar exige esforço” diz. Ou seja, “uma coisa é tirar prazer do estudo e outra é brincar”. A docente chamou ainda a atenção para a “ infantilização demasiada nos manuais escolares,” que levou a uma falta sistemática de hábitos de trabalho.

O grassar da violência foi outro dos problemas abordados por Natividade Correia que defendeu que a problemática dos telemóveis podem ter uma solução fácil com o envolvimento da família.

Já quanto à duração das aulas ser agora de 90 minutos garante que “foi feita por uma alma iluminada que nunca na vida teve alunos dentro da sala de aula”, considerando-a uma medida errada designadamente no primeiro ciclo.

“Proponho aulas de 60 minutos que é a duração ideal”, referindo que “nas disciplinas de carácter laboratorial devem ter uma duração superior”.

Natividade Correia sustenta que outra questão importante “é saber quais os saberes que devemos considerar importantes. Os alunos têm hoje uma excessiva carga horária com muitos trabalhos ditos de investigação que todos nós sabemos que na sua grande maioria são cópias integrais da Internet sem qualquer filtro”. Assim, adianta ter hoje “a convicção de que a formação do saber dos alunos tem de assentar nos conhecimentos clássicos que são o Português, a Matemática a História, pois sem estes saberes não comunicamos, e não somos capazes de intuir”.

Por outro lado, adverte que “o trabalho em grupo e o empreendedorismo são atitudes muito importantes” e duvido que se estejam a desenvolver estas atitudes nas nossas escolas. Em seu entender “a reorganização de algumas áreas curriculares daria espaço para isso sem sobrecarregar os alunos”.

“Considero que a responsabilidade e a formação vem do seio da família, e quando esta não existe por qualquer fatalismo é obviamente à escola que cabe fazer isso. Para isso, as escolas e os professores têm de ter meios para se fazerem respeitar. Costumo dizer aos meus estagiários que o respeito dos alunos se conquista não só por palavras, mas por exemplos, posturas e sobretudo pelos conhecimentos científicos”, conclui.


Nuno Crato: “nos últimos anos assistiu-se a algo sem precedentes, que nunca tinha acontecido, que é a utilização da avaliação como arma política”

"Penso que existem uma série de coisas que podem ser feitas em relação à Educação, que há planos grandiosos que se podem ter, mas que existem também três ou quatro objectivos imediatos e simples que devem ser atingidos, pois sem eles tudo o resto cai pela base” referiu Nuno Crato, professor de Matemática e Estatística do ISEG da Universidade Técnica de Lisboa.

O docente considerou ser necessária desde logo seriedade na avaliação dos alunos. Refere que “em Portugal tem havido ausência de exames. Fala-se muito que os exames podem ser prejudiciais, mas acham que em Portugal há exames?”, questionou os participantes no Fórum.

Chamou a atenção para o facto de ao longo dos nove anos de ensino obrigatório existirem cerca de trinta ou quarenta disciplinas e destas só as de Português e de Matemática é que são avaliadas.

“E quanto vale a avaliação dos exames?”, volta a perguntar, para responder que só 30 %, pelo que perante isto considera era mais correcto “dizermos que em Portugal não há exames do que estarmos preocupados com os exames”.

Adverte que “além de não haver exames no ensino obrigatório – no secundário as coisas funcionam um bocadinho melhor – os exames não são fiáveis nem comparáveis de ano para ano, pois variam de critério também de ano para ano”.

Num cenário em que os exames variam de critério, de conteúdo, e até de tempo para a sua resolução “ninguém sabe comparar um e catorze de média deste ano com um e dez de há cinco anos atrás. E ninguém sabe porque os exames não são comparáveis”, avisa.

"É preciso que haja mais exames como forma de avaliação externa e credível, que avalize as aprendizagens, e que balize a própria avaliação que o professor vai fazer na sua turma. É preciso que os exames sejam fiáveis e nos digam alguma coisa. Ninguém acredita que em dois anos é possível passar de uma média de Matemática de oito para catorze. Ninguém acredita nisto, a não ser o Ministério da Educação, que é o único a acreditar naquilo que faz”, avisa.

“Mas que razões fazem com que não seja o Ministério da Economia a fazer as estatísticas de Economia? Ou as se Saúde a serem feitas pelo Ministério da Saúde?

Em última análise qual a razão para existir o Instituto Nacional de Estatística?” foram questões deixadas por Nuno Crato. O docente adiantou desde logo a resposta: “por se pressupor que as estatísticas devem ser feitas com independência, ou seja não devem ser os interessados nos resultados das estatísticas a publicar as mesmas”.

Neste momento a nível na Educação em Portugal “não temos uma entidade independente avaliadora. E mais, nos últimos anos assistiu-se a algo sem precedentes, que nunca tinha acontecido, que é a utilização da avaliação como arma política. Quando o governo e o ministro dizem aqui está o resultado do meu programa que são estes exames, e nós sabemos que os exames não são credíveis, podemos pôr tudo em causa”, refere.

Para Nuno Crato “ os exames devem sair do Ministério da Educação. É preciso criar um gabinete de avaliação independente. As soluções são muitas, depende da imaginação”. Refere que os exames podem ser feitos “sob a tutela do primeiro-ministro, do INE, podem ser realizados por uma empresa contratada ao exterior como acontece nos EUA, ou por uma Universidade como sucede em Inglaterra, ou até pela Assembleia da República”.

Mas para o docente universitário “é necessário retirar a avaliação de quem está a ser avaliado por ela, que é o Ministério da Educação. Não são precisos muitos decretos para fazer isto, não é preciso muita coisa, mas sim um ministro que tenha a coragem de chegar e dizer que o gabinete de avaliação educativa está encerrado e vamos contratar alguém”. Refere que “podem até ser as pessoas que lá trabalham, podem ser pessoas com experiência no domínio, mas tem de se assegurar a avaliação através de uma estrutura independente do Ministério da Educação”.

Nuno Crato afirma que “é necessário dar mais atenção aos conteúdos e menos atenção aos processos. O nosso Ministério da Educação – e a culpa é ao longo dos anos de todos os partidos – deram mais atenção à forma que ao conteúdo. Deram mais recomendações pedagógicas do que o traçar objectivos pedagógicos e de aprendizagem. Os programas são documentos doutrinários sobre a maneira de ensinar, e muito ultrapassados cientificamente” avisa.

“Defendo o contrário, que o Ministério da Educação deve dizer que os alunos em determinado ano de escolaridade devem saber determinadas matérias, e de igual forma para os anos seguintes. Ora, o que está escrito nos programas não é nada disso”, adianta.

Curriculum em espiral

Sobre o curriculum em espiral “que em si mesmo é uma boa ideias pois as coisas devem ser revisitadas” Nuno Crato avisa que este “ já é uma péssima ideia quando as matérias são sempre revisitadas e nunca terminadas com o aluno nunca saber nada”.

“Qual a razão para a tabuada se aprender do um aos cinco e só depois dos seis aos dez? Devem aprender-se e encerrar-se assuntos, tal como concluo um recente estudo dos EUA sobre o ensino da matemática”, refere.Para este docente “em Portugal o que se passa é um dirigismo pedagógico, e não uma preocupação com o que os alunos sabem. Isto deve ser completamente invertido, pois os professores são quem deve decidir como se chega a determinado conhecimentos”.

Sobre a avaliação de os professores defende que estes devem ser avaliados com base nos resultados, nos acréscimos que trazem aos seus alunos. “Quem pega numa uma com média de 15 e a entrega passado dois anos com média de treze é muitos pior professor do que aquele que pega numa turma com média de 10 e ao fim de dois anos a faça subir para os 12”, considera. Para se conseguir fazer isso, “sem ser só pela inflação das notas dadas pelos professores, implica a existência de uma avaliação externa e credível, ou seja é necessário haver exames nacionais”, defende.

Considera igualmente ser necessário “valorizar os professores. Tudo se tem passado por parte do Ministério da Educação como se ao longo de décadas tudo tenha funcionado bem, excepto os professores que de repente foram os culpados de todos os erros do ensino. Desencadeou-se uma guerra de que ninguém lucra, a não ser quem queira propagar a ideia que é preciso vergar essa classe de professores”, frisa, defendendo que pelo contrário “é necessário emendar os erros que durante décadas foram feitos pelo Ministério da Educação”.

Para Nuno Crato existem duas outras coisas fundamentais para os professores do futuro: “é preciso que os professores do futuro, que vão ensinar os meus netos, venham preparados cientificamente”. Avisa que “com a adaptação a Bolonha tomou-se uma medida negativa, pois durante os primeiros dois anos os professores devem aprender as matérias substantivas, e nos dois anos seguintes desaprenderem-nas, com as ciências da Educação que estão na mão de sociólogos e de ideólogos, de pessoas que não olham para a realidade, e são fanáticos de um certo tipo de ensino, que se agarraram ao poder dos corredores dos ministérios e departamento universitários mas que pouco sabem de educação”.

Para Nuno Crato “os professores do futuro não podem ser pessoas que fizeram o secundário de forma atabalhoada e à pressa, com Novas Oportunidades para irem para as universidades de uma forma que não se sabe muitas vezes como foi, para frequentarem os três anos do primeiro ciclo de Bolonha que por vezes é o reviver de matéria antigamente dadas no Liceu, e que depois, após estarem a um nível de percepção das coisas básicas, vão passar dois anos a estudar sociologia da educação e não a didáctica da educação que é muito necessária”.

“Há outra medida que foi anunciada por este governo, e que espero que cumpra, pois tiveram a coragem de afrontar os professores, mas não a de fazer um exame de entrada na profissão para os futuros professores”, diz Nuno Crato para quem “esta era uma medida simples e decisiva”.

No final da sua intervenção adiantou “uma medida muito simples a tomar, que é quase acabar com o Ministério da Educação, e constituir um ministério pela Educação, que faça coisas simples, que arranje alguma maneira de gerir o parque escolar, resolva o programa das profissões e dos salários e encomende os exames, garanta que esses são feitos e depois deixe as escolas funcionar”.

Em resumo “ deve acabar -se com o Ministério que tem a Educação como a sua pertença, e deve-se ter um Ministério que tenha a Educação como seu objectivo, e que seja muito mais ligeiro, que dê mais liberdade às escolas e não aborreça os professores com coisas secundárias. E que faça aquilo que não tem tido coragem de fazer que é traçar metas e avaliar os resultados”, concluiu.

“O sistema educativo é a base para o desenvolvimento do futuro do país, e há questões simples, mas que determinam a nossa visão: a exigência e o mérito. São questões que têm estado ao abandono e que são os pilares que devem orientar todo o sistema”

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