Foi longo o desafio de coordenar esta sessão. Tão longo quanto gratificante: pela incursão em “mundos outros”, pela boa recepção que de todos fomos recebendo, pela excelência dos contributos que a este blog foram chegando, muitos deles retratos vivos traçados por quem conhece, por dentro, a realidade escolar do país.
Num espaço de total liberdade de opinião, discussão, ruptura, inovação. Obrigado pela colaboração de todos.
A educação é claramente um dos mais relevantes e preocupantes sectores da nossa sociedade a que importa dedicar atenção e cuidados redobrados.
Sem querer “chover no molhado”, uma palavra desde já para os professores. Convençam-se os decisores deste país que uma reforma, seja ela qual for, não se faz contra os seus principais actores, procurando bodes expiatórios para outros males, na demagogia barata de que se está a combater privilégios e regalias injustificadas. Os professores foram mal tratados, desconsiderados e humilhados pelo Poder. E, por via disso, atingidos numa das vertentes essenciais do seu desempenho: a autoridade face aos alunos e face à comunidade em geral. Por isso, e desde logo, qualquer política de educação que se pretenda diferente, e obviamente melhor, se deparará com a necessidade de um esforço imenso para reparar estragos que não tinham sido necessários.
Uma segunda palavra para as questões de ordem social. Nenhuma “nova política” de Educação poderá passar ao lado da relevância de definir claramente o que se pretende do ensino profissional, que destinatários visa, que alunos deverão ser encaminhados para essa via. Sem essa definição clara não se ultrapassará o problema do “nivelamento por baixo” nos níveis de exigência escolar, fruto da inclusão massificada de alunos que, em tempos idos, não acediam a níveis de escolarização mais elevados. Mas a realidade dura e crua é que o crescimento do nosso nível de escolarização não passa de estatística para apresentar ao mundo, e aos parceiros europeus em especial. De facto, ninguém confia hoje nos números apresentados pelo M.E., seja nos resultados dos facilitados exames nacionais ou nas famigeradas “novas oportunidades”. A escola pública democratizada, para todos, inclusiva, acabou tristemente votada ao papel de potenciadora de maiores desigualdades, sempre em favor dos já mais favorecidos que colmatam as misérias do ensino público no mercado paralelo das explicações, que podem pagar, ou pela fuga para instituições de ensino privado mais exigentes, que os preparam para mais altos voos, e que também podem pagar.
Terceira nota para a afectação de dinheiros públicos na Educação: dizem as estatísticas que gastamos em Portugal ao nível dos países nórdicos, para concluir que não é por falta de investimento do Estado que as coisas não vão melhores. Falsa verdade! Esquecem que a comparação tem que ir mais longe e ponderar: há quantos anos afecta Portugal recursos de nível idêntico àqueles países? E o grande gap que deles nos separa não se pode considerar resolvido pelo valor de gasto público no sector. Lembremos só que há pouco mais de 30 anos Portugal tinha cerca de 70% de analfabetos. E os nórdicos? Em que patamar estavam então?
E ainda na matéria da afectação de recursos económicos à Educação, punhamos o dedo na ferida: o sector é ou não prioritário? É ou não o único investimento verdadeiramente reprodutivo em si mesmo? Está ou não condenado um país onde graça a ignorância, ainda por cima “divertida” e entretida com algum domínio das novas tecnologias de informação. Só que…as novas tecnologias, um computador por aluno, seja o que for, de nada servem para quem não sabe o que delas fazer. É que era desejável que não servissem apenas para jogos, Facebook, Hi5 e afins!
Quarto ponto: o ensino privado. É ou não verdade que boa parte do seu sucesso advém do nível sócio-económico dos seus alunos e, logo, da envolvente cultural destes? Se não, façamos uma experiência: apuremos o custo médio de um aluno, apuremos a capacidade do Colégio XPTO, e o M.E. entregará a esse colégio o valor correspondente ao custo dos 500 alunos que para lá transferiremos da escola de “Alguidares-de-Baixo”. No fim do ano veremos a posição do dito colégio nos tão famosos rankings.
Palavra final: para os pais e encarregados de educação. Não é possível pedir às escolas que “eduquem”. Esse é o papel das famílias. A estas compete ensinar que nas aulas não se usa o telemóvel, não se está de boné na cabeça, não se lançam papéis no chão nem se bebe água pelas garrafas como na praia! A escola instrui. Faculta ferramentas (aprendizagens e competências) para que cada um se possa afirmar plenamente enquanto indivíduo livre e responsável em sociedade. E tem que estar munida da sua autoridade própria, que lhe advirá do mérito, da qualidade. E sempre atenta ao indispensável nível de exigência, que será o desafio recompensador para os mais capazes e o filtro dos que deverão seguir outro destino. Como sempre aconteceu e sempre há-de acontecer. E cito J. S. Mill na sua autobiografia: “Um aluno a quem nunca é pedido algo que ele não é capaz de fazer, nunca fará aquilo de que é capaz.”Tantos e tantos pontos de discussão e debate. Tarefa árdua, mas seguramente profícua, em que contaremos hoje com os contributos de excelência de José Manuel Canavarro, Natividade Correia e Nuno Crato, sob a moderação de Marcelo Rebelo de Sousa.
Num espaço de total liberdade de opinião, discussão, ruptura, inovação. Obrigado pela colaboração de todos.
A educação é claramente um dos mais relevantes e preocupantes sectores da nossa sociedade a que importa dedicar atenção e cuidados redobrados.
Sem querer “chover no molhado”, uma palavra desde já para os professores. Convençam-se os decisores deste país que uma reforma, seja ela qual for, não se faz contra os seus principais actores, procurando bodes expiatórios para outros males, na demagogia barata de que se está a combater privilégios e regalias injustificadas. Os professores foram mal tratados, desconsiderados e humilhados pelo Poder. E, por via disso, atingidos numa das vertentes essenciais do seu desempenho: a autoridade face aos alunos e face à comunidade em geral. Por isso, e desde logo, qualquer política de educação que se pretenda diferente, e obviamente melhor, se deparará com a necessidade de um esforço imenso para reparar estragos que não tinham sido necessários.
Uma segunda palavra para as questões de ordem social. Nenhuma “nova política” de Educação poderá passar ao lado da relevância de definir claramente o que se pretende do ensino profissional, que destinatários visa, que alunos deverão ser encaminhados para essa via. Sem essa definição clara não se ultrapassará o problema do “nivelamento por baixo” nos níveis de exigência escolar, fruto da inclusão massificada de alunos que, em tempos idos, não acediam a níveis de escolarização mais elevados. Mas a realidade dura e crua é que o crescimento do nosso nível de escolarização não passa de estatística para apresentar ao mundo, e aos parceiros europeus em especial. De facto, ninguém confia hoje nos números apresentados pelo M.E., seja nos resultados dos facilitados exames nacionais ou nas famigeradas “novas oportunidades”. A escola pública democratizada, para todos, inclusiva, acabou tristemente votada ao papel de potenciadora de maiores desigualdades, sempre em favor dos já mais favorecidos que colmatam as misérias do ensino público no mercado paralelo das explicações, que podem pagar, ou pela fuga para instituições de ensino privado mais exigentes, que os preparam para mais altos voos, e que também podem pagar.
Terceira nota para a afectação de dinheiros públicos na Educação: dizem as estatísticas que gastamos em Portugal ao nível dos países nórdicos, para concluir que não é por falta de investimento do Estado que as coisas não vão melhores. Falsa verdade! Esquecem que a comparação tem que ir mais longe e ponderar: há quantos anos afecta Portugal recursos de nível idêntico àqueles países? E o grande gap que deles nos separa não se pode considerar resolvido pelo valor de gasto público no sector. Lembremos só que há pouco mais de 30 anos Portugal tinha cerca de 70% de analfabetos. E os nórdicos? Em que patamar estavam então?
E ainda na matéria da afectação de recursos económicos à Educação, punhamos o dedo na ferida: o sector é ou não prioritário? É ou não o único investimento verdadeiramente reprodutivo em si mesmo? Está ou não condenado um país onde graça a ignorância, ainda por cima “divertida” e entretida com algum domínio das novas tecnologias de informação. Só que…as novas tecnologias, um computador por aluno, seja o que for, de nada servem para quem não sabe o que delas fazer. É que era desejável que não servissem apenas para jogos, Facebook, Hi5 e afins!
Quarto ponto: o ensino privado. É ou não verdade que boa parte do seu sucesso advém do nível sócio-económico dos seus alunos e, logo, da envolvente cultural destes? Se não, façamos uma experiência: apuremos o custo médio de um aluno, apuremos a capacidade do Colégio XPTO, e o M.E. entregará a esse colégio o valor correspondente ao custo dos 500 alunos que para lá transferiremos da escola de “Alguidares-de-Baixo”. No fim do ano veremos a posição do dito colégio nos tão famosos rankings.
Palavra final: para os pais e encarregados de educação. Não é possível pedir às escolas que “eduquem”. Esse é o papel das famílias. A estas compete ensinar que nas aulas não se usa o telemóvel, não se está de boné na cabeça, não se lançam papéis no chão nem se bebe água pelas garrafas como na praia! A escola instrui. Faculta ferramentas (aprendizagens e competências) para que cada um se possa afirmar plenamente enquanto indivíduo livre e responsável em sociedade. E tem que estar munida da sua autoridade própria, que lhe advirá do mérito, da qualidade. E sempre atenta ao indispensável nível de exigência, que será o desafio recompensador para os mais capazes e o filtro dos que deverão seguir outro destino. Como sempre aconteceu e sempre há-de acontecer. E cito J. S. Mill na sua autobiografia: “Um aluno a quem nunca é pedido algo que ele não é capaz de fazer, nunca fará aquilo de que é capaz.”Tantos e tantos pontos de discussão e debate. Tarefa árdua, mas seguramente profícua, em que contaremos hoje com os contributos de excelência de José Manuel Canavarro, Natividade Correia e Nuno Crato, sob a moderação de Marcelo Rebelo de Sousa.
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