16/04/2009

“Educação, hoje” - Reflexão de Isabel Nascimento Cunha – Professora aposentada do Ensino Secundário - Porto

Sou professora aposentada desde 2008, por isso não receio retaliações e posso escrever o que penso.

Ao longo de mais de 37 anos, passei por variadíssimas reformas, experimentei novas e “salvadoras” metodologias, todas elas denunciadoras da total cegueira das antigas, adoptei sucessivas doutrinas pedagógicas. Ao longo deste percurso, fui sempre aprendendo e sobretudo aprendendo que cada “receita” tem o seu mérito, a sua verdade mas nunca é absoluta. Aprendi a integrar a multiplicidade de experiências, a flexibilizar os saberes e, acima de tudo, a não ter certezas, mas sim a manter-me num alerta permanente.

Olho para trás e vejo uma linha descendente: na imagem pública dos Professores (de que a tutela é tão responsável), no espaço físico das escolas tão degradado/abandalhado, e pior que tudo na qualidade do ensino, actual bandeira política para a escola de excelência.

Não esqueço que há progressos que têm custos muito elevados: a escolaridade obrigatória, o acesso de todos os cidadãos ao saber. Mas por isso mesmo as opções políticas são vitais, devem visar a efectiva qualidade e não a contabilidade afixada nos meios de comunicação e avaliada em Bruxelas. Não é de um “braço de ferro” que se trata!

Não há escola sem alunos como não há escola sem professores. Hostilizar uns ou outros é erro grosseiro. Indispensável é criar receptividade, dialogar, ouvir para se fazer ouvir e então negociar para uma mesma finalidade – a melhoria das aprendizagens, a adequação das competências. E então talvez encontrássemos resposta para tantas dúvidas:

1- A escola a tempo inteiro é, efectivamente, a solução para um desenvolvimento harmónico do jovem? Depositar a criança/o adolescente na escola, de manhã, e ir buscá-lo ao final da tarde é sem alternativa? Onde o convívio com pais, irmãos, o tempo para brincar, a cumplicidade familiar?

2- A escola inclusiva é inclusiva para quem? Porque não permitir a constituição de turmas com as condições necessárias para incluir alunos desfavorecidos e não prejudicar os outros?

3- Por que é que os curricula de ensino básico contêm tantas disciplinas algumas das quais apenas com 1ou 1,5 bloco por semana? O que aprende um aluno, numa turma de 28, de uma segunda língua estrangeira?

4- Qual a função do professor? Ensinar? Estudar, investigar? Ser funcionário administrativo? Ser psicólogo? Ser assistente social? Ser técnico jurídico? Gestor? Ou ser um pouco de tudo isto e sempre apontado a dedo como o maior responsável (o mais fácil, no mínimo) de tudo o que não corre bem?

5- Por que é que as Humanidades estão tão desvalorizadas e as apostas são sempre um reforço das tecnologias e das ciências?

6- Por que nunca se autoriza a constituição de turmas de 20 alunos, de forma a possibilitar o efectivo cumprimento dos programas? Por que está previsto o desdobramento de uma turma em 2 grupos, em certas disciplinas, e as Línguas Estrangeiras continuam com 28 alunos para trabalhar competências de escrita e de oralidade? Esta seria uma medida corajosa, não económica, mas indispensável para a resolução de muitos problemas.

7- Por que é que as prioridades na Educação são mais económicas e contabilísticas do que educativas?E tantas, tantas outras questões…

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