10/04/2009

Falar a Língua Portuguesa de maneira clara e objectiva: Reflexão de Luísa Barros, Advogada

Vieram-me à memória algumas das frases, inevitáveis como um tique e que se propagaram de tal forma que fazem com que muita e muita gente as empregue, sempre que a boca se abre.

De mansinho a epidemia instalou-se e o resultado foi a transformação da linguagem que se pretende clara, directa e cuidada, numa verdadeira enxurrada de disparates verbais, utilizados a propósito e a despropósito, mais a despropósito, acrescente-se a bem da verdade. Cheguei à exaustão.

Trata-se de expressões profundamente irritantes, que não consigo digerir, mesmo tomando sais de fruta. Já não há pachorra para: "Não há condições" – mero desabafo a propósito de tudo e nada; "Tipo” e "tipo assim" – viu-se um filme tipo comédia, era uma mulher tipo bonita; "É que… é já a seguir" – o quê? não interessa; nada acontece; “Tás a ber” – nada mostra nem se espera “ber” coisíssima alguma; “peguei e fui “ – mesmo não indo a parte alguma; “tou que nem posso” – que nada explica.
Pior mesmo suportar na comunicação oral (Deus nos livre se a epidemia se alastra à escrita…!) esta moda de começar as frases por “Então… é assim…!!!”, absolutamente insuportável. Não serve para nada. É tamanha a irritação mesmo em rijos tímpanos, que adivinham a inevitável e consequente verborreia balofa, empolada de um chorrilho de generalidades. Não serve para nada.

Ao ponto de ficarmos agradados se o falante não tiver a mania, ainda mais intolerável, de repetir, abundas vezes, a improfícua expressão, no conjunto das duas ou três frases seguintes, caso em que, para evitar o vírus, nos resta apresentar cumprimentos e “até à próxima”.

Não nos livraremos, porém, de ouvir outra tolice: “Então vá…” – bastava “até amanhã”. (Ora “então vá-se catar!” penso), ou “Vá tão…” igualmente absurdo (aqui desisto, já nem penso).

Tais banalidades não adiantam coisa nenhuma, antes se utilizam na abordagem frequente de um qualquer assunto, como um hábito, uma moda, que insiste em se fazer -se notar.

Haja quem pare este distúrbio linguístico, motim de desmiolado palavreado.

É-me difícil contemporizar com tais expressões, que por aí se fazem ribombar a propósito de tudo e de nada, que nada acrescentam nem ao que querem dizer, se é que querem dizer alguma coisa, nem à qualidade da linguagem.
Estou um bocado farta destes intelectuais de rua. Quem dera que praticassem o silêncio?

E as célebres muletas linguísticas (crutch-words)? “Portanto” no princípio da frase, “prontos…”, que dá para tudo (“e prontos… foi assim”; “prontos… acabou”, “anda daí… e prontos”), …Certo? e Ok!? no fim de cada frase…
São como um espelho da própria sociedade: letrados não nascem ignorantes, mas aprendem dentro da sociedade em que vivem.

Porque não sensibilizar as famílias e escolas para que formem cidadãos bem falantes, na plenitude do termo?
Precisa-se alguma maturidade (também linguística), de falar claro!
Não carece de bazófia, exibicionismo ou pedanteria. Não é necessário ostentar palavras sábias e eruditas. Basta a clareza. Eficaz e perceptível !
Actualmente se é importante discutir as reformas educativas, a avaliação de alunos e professores e o desempenho do Ministério Tutelar, também é preocupante esta realidade em que nada se faz estimular o devido e merecido uso da Língua Mãe.
E se para tal for preciso uma insurreição a nível nacional, nessa luta, sim, contem comigo!

Tenho dito!

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