07/04/2009

Reflexão de Pedro Botelho Gomes, Coordenador da Sessão "Educação: pela exigência, o mérito e o direito de escolha"

Educação: o desconsiderar do que é/devia ser estruturante

Nenhuma sociedade se desenvolve e cresce, mais justa e mais livre, sem um sistema educativo forte, coeso, devidamente estruturado, que seja semente de um amanhã melhor.

Ao invés disto, Portugal confronta-se com um colapso total de alguns pilares base da escola: autoridade, esforço, mérito, e reconhecimento do mérito.

Da escola onde se ensinava e aprendia, passamos para a escola das actividades e das competências pessoais, interpessoais e sociais. Ao contrário do que aos portugueses se foi “vendendo”, a democratização da escola não correspondeu à suposta igualdade de oportunidades. Pelo contrário, o fosso social agrava-se de dia para dia num país em que ricos e pobres têm cada vez mais a diferenciá-los – marcando as suas vidas para sempre – as possibilidades de escolha de diferentes escolas. Incapaz de se haver com a nova população escolar vinda de meios sociais desfavorecidos a partir de 1974, o caminho do Estado foi, com particular ênfase nos últimos anos, o de nivelar por baixo, gerindo a Educação para as estatísticas de sucesso, numa atitude deplorável que resulta numa clara perversidade: sob o rótulo de “escola para todos” está minada a esperança no futuro para os mais pobres, que verdadeiramente não têm na escola o espaço para aprender que não pode deixar de lhes ser facultado.

Uma nota também para a situação actual dos professores: achincalhados na praça pública pelo Poder, desautorizados pela legislação vigente (cf. Estatuto do Aluno e Estatuto da Carreira Docente), perderam o status que se lhe reconhecia como inerente à classe formadora das gerações mais jovens. Rotulados e tratados pelo actual Poder como se um bando de preguiçosos fossem, certo é que se a Educação é hoje talvez o maior desastre da nossa democracia, a responsabilidade não lhes pode ser imputada: não fizeram os programas, não foram os culpados da falta de resposta do sistema educativo para se debater com a massificação da escola, não foram os criadores das políticas demagógicas e fantasiosas que determinaram a fuga das classes média/alta da escola pública. E sem um ensino público de qualidade não há maneira de nos livrarmos da vergonha que, no que à Educação respeita, carregamos nos ombros.

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