20/07/2009

Ambiente: Construir o Presente, Preservar o Futuro

Sobre a situação actual a opinião é unânime

O governo anunciou mas não realizou!

Só a titulo de exemplo:

O governo anunciou a campanha de Marketing: “ Renováveis na hora”, a verdade é que apenas forma contempladas 1000 casas devido aos processos de licenciamento kafkianos;

O governo anunciou a campanha “Solar Térmico”, a verdade é que a mesma não foi equitativa, pões em causa o funcionamento do mercado, deixando as PMEs do sector em situação económica difícil;
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O Ministério do Ambiente funcionou como um “gueto” paralisado pela rotina e pela burocracia.

O ambiente precisa de uma nova abordagem:

Uma reforma verde para Portugal

Ao nível da estrutura do governo, de forma a que a politica ambiental seja integrada nos outros Ministérios;

Ao nível fiscal de forma a, não cirando mais encargos aos portugueses, se transfira tributação do trabalho, para a tributação da poluição, através da introdução do princípio do poluidor pagador na política fiscal mas com utilização das estruturas fiscais existentes – sem gerar custos administrativos. Por outro lado, utilizar a politica fiscal como forma de criar sustentabilidade nos outros sectores como floresta, resíduos, produção de energia e educação ambiental;

Ao nível da educação há que promover um novo comportamento ambiental para os Portugueses;

Ao nível legislativo é imperioso codificar, coordenar e simplificar a legislação avulsa existente;

Ao nível energético uma aposta clara na “auto” produção da energia, criando uma “ rede eléctrica inteligente”, conciliando produção e eficiência energética. O modelo ESCO ( Energy Services Company ), com bons resultados em países como a Alemanha e Japão, deve ser potenciado;

Ao nível do combate as mudanças climáticas há que dotar o país de ferramentas, para reduzir a vulnerabilidade e os riscos associados aos impactes e, ao mesmo tempo, cumprir Quioto. Portugal não pode perder terreno, para outros países desenvolvido, nos PALOPs, em matéria de investimento directo estrangeiro, aproveitando as oportunidades da “economia do carbono” incentivando e exportação de tecnologia portuguesa;

Ao nível da investigação apostar em cleantech, criando um plano nacional de investimento em I&D, redefinir a estratégia de financiamento da investigação, promover concursos de ideias e inovação tecnológica direccionados quer para as energia alternativas quer para a implementação do princípio do poluidor mitigador;
Ao nível dos resíduos criar sustentabilidade no sistema, apostar na valorização dos resíduos, autonomização dos CDRs ( combustível derivado de resíduos), valorizar os RCDs ( Resíduos de Construção e Demolição) e no âmbito dos biocombustíveis criar condições para o aproveitamento dos óleos alimentares;

Ao nível da biodiversidade há que criar a Rede Fundamental de Conservação da Natureza com enfoque nas especificidades do meio marinho;

Ao nível da floresta há que fazer uma nova abordagem, para alem dos produtos transaccionáveis, de forma a valorizar as suas externalidades essenciais ao bem-estar da sociedade;

Ao nível do turismo tornar Portugal na vanguarda da certificação ambiental, promovendo o “ Portugal Go Green”;

Ao nível da Administração Publica há que a integrar no cumprimento das obrigações ambientais, estender aos edifícios e equipamentos públicos a eficiência energética e a microgeração, obrigar a percentagens mínimas de materiais reciclados nas obras publicas e valorizar propostas em sede de concursos públicos em função da utilização de materiais reciclados;

No sector da agua há que promover a sua reorganização clarificando a participação do Estado, autarquias e privados no sector, privilegiar medidas simples de poupança que se pagam a si próprias, incentivar a utilização local de aguas pluviais, de mina e de ribeiras, bem como de aguas residuais tratadas para rega e lavagens;

No âmbito dos solos é imperioso dotar Portugal de uma politica de descontaminação dos solos

Construir o Presente, Preservar o Futuro

Ivone Rocha

30/06/2009

Fórum Portugal de Verdade: Desemprego – Combate Social Prioritário: Conclusões

Na sequência da sessão do Fórum Portugal de Verdade dedicada ao tema “Desemprego: Combate Social Prioritário” de Março último, realizada a par de outras nove sessões, dedicadas a outros tantos temas de capital importância para o País – considerou-se essencial proceder à discussão em pormenor das propostas entretanto elaboradas pelo PSD.

A reunião da passada quinta-feira, que decorreu à porta fechada, contou com mais de vinte participantes oriundos das mais diversas áreas relacionadas com o tema do mercado de trabalho e do desemprego e teve como ponto de partida a apresentação por parte do PSD da sua análise do enquadramento conjuntural e estrutural, linhas estratégicas e conjunto de propostas de acções e medidas para a área em causa.

Tendo em conta a visão que cada um dos presentes trouxe para a reunião, duas grandes vertentes perpassaram o debate, uma focalizando a dimensão pessoal e humana do desemprego e outra visando a sua dimensão económica e empresarial.

Para além da concordância generalizada com as linhas apontadas pelo documento apresentado, alguns pontos concretos que mereceram ênfase foram: a crítica ao cariz avulso das respostas do governo à subida do desemprego, geridas pela oportunidade mediática; a relevância do relançamento da contratação colectiva, com redefinição do seu enquadramento no código de trabalho; a importância do apoio ao empreendedorismo, não só no seio das instituições de educação formal, mas também por intermédio da criação efectiva de condições favoráveis à constituição, financiamento e gestão das micro e pequenas empresas.

26/06/2009

Desemprego: o combate social prioritário

Quatro meses após a sessão do Fórum Portugal de Verdade realizada em Braga, a qual analisou a realidade das PMEs, o PSD voltou a reunir-se com um conjunto de empresas e instituições portuguesas nesta área de importante valor para o desenvolvimento e crescimento do País.

A reunião da passada terça -feira, decorreu à porta fechada e contou com mais de vinte participantes, reunindo os contributos de associações empresariais e empresas.

O Partido Social Democrata ouviu as preocupações e a percepção dos participantes, tendo igualmente apresentado a sua análise conjuntural e estrutural, bem como um conjunto de propostas políticas concretas que balizaram a discussão.

Da discussão resultou um consenso em torno de duas linhas de acção distintas:

1) apoiar, desenvolver, qualificar e internacionalizar o actual tecido empresarial nacional, com especial enfoque nas PMEs, através de uma agilização do relacionamento do Estado com as empresas e;

2) Apostar no fomento do empreendedorismo qualificado, em particular, no desenvolvimento de condições para a emergência de novas empresas, com potencial de alteração do tecido empresarial em direcção a uma realidade económica qualificada e num posicionamento superior da cadeia de valor acrescentado.

Rui Trindade

Desemprego: o combate social prioritário

"O desemprego é um problema conjuntural que resulta do grave problema estrutural que é o modelo de desenvolvimento actual da economia portuguesa", explicou José Pedro Aguiar Branco.

Na segunda sessão do Fórum Portugal de Verdade, dedicado ao temaDesemprego: Combate Social Prioritário, estiveram reunidos representantes de diversas entidades ligadas à solidariedade social, juventude, promoção do emprego, e ainda consultores de empresas, jovens empresários, representantes da Banca e de associações empresariais e sindicalistas.

Um a um, todos os presentes ofereceram a sua visão da situação extremamente preocupante que, neste momento, se abate sobre a sociedade e a economia portuguesa, em cada um dos sectores, trazendo para a discussão as respectivas análises e sugestões de caminhos a tomar.

Perante Manuela Ferreira Leite, concluíram que a situação é tão séria que constitui, em si mesma, uma oportunidade extraordinária para operar mudanças de fundo, mudanças de nível estrutural, no funcionamento da economia portuguesa, que sejam capazes de substituir o actual modelo de desenvolvimento que está a falir em Portugal.

Concluíram, também, que será, realmente necessária uma política de verdade e transparência para fazer com que os cidadãos compreendam a importância de aceitar novos modelos de emprego e, assim, fazer evoluir os comportamentos e as atitudes, passando da actual passividade e dependência do trabalho por conta de outrem para uma atitude pró-activa e empreendedora por parte dos cidadãos.

Assim se falou no papel do Estado enquanto facilitador e bom cliente (pagar a tempo), na importância de decidir prioridades e definir sectores estratégicos de criação de valor. E reforçou-se a urgência de criar condições de incentivo ao empreendedorismo jovem e à criação do próprio emprego, bem como medidas de protecção às micro, pequenas e médias empresas que passam, necessariamente, pela simplificação do enquadramento legal e fiscal das empresas, a reforma do IVA, e a protecção social do empresário.

As escolas e universidades desempenham um papel muito importante na formação e preparação de futuros empreendedores e mesmo no lançamento de projectos de empresas. As instituições de solidariedade social trabalham do outro lado do espectro, mas pela sua capilaridade e capacidade de entrosamento com as diversas camadas da sociedade, têm uma capacidade de envolvimento da comunidade que deve ser defendido e fomentado. As entidades ligadas à Juventude e à formação deverão coordenar-se melhor com as entidades atribuidoras de subsídios para optimizar o aproveitamento dos incentivos disponíveis e a concretização dos projectos dos candidatos. Os regulamentos dos programas de apoio lançados pelas entidades estatais devem ir além da atribuição de dinheiros, mas acompanhar realmente no terreno, seja nacional seja internacionalmente, a realidade das empresas.

Tudo isto tem carácter urgente e, por isso, Manuela Ferreira Leite lançou o repto: "Estamos a chegar ao tempo de acabarmos com as visões teóricas que estão bem assentes e com as quais todos concordam. O que falta, neste momento, é saber quais são as medidas concretas que devem entrar em vigor no dia a seguir ao governo entrar em funções, seja ele qual for", concluiu.

25/06/2009

PMEs: Das ideias às políticas

A primeira fase do Fórum Portugal de Verdade permitiu ao Partido Social Democrata recolher um imenso manancial de informação sobre as questões mais urgentes a atentar na sociedade civil portuguesa, bem como conhecer visão daqueles que estão no terreno e que têm experiências valiosíssimas a partilhar.

Ao longo de dez sessões, Manuela Ferreira Leite teve oportunidade de recolher contributos que resultaram num conjunto de propostas que importa agora discutir.

Na manhã de 22 de Junho, num hotel da capital, iniciou-se uma nova fase do Forum Portugal de Verdade. O PSD volta, deste modo, a reunir-se com os principais agentes da sociedade portuguesa, da economia e indústria à saúde e à educação, do território ao ambiente, para assim afinar as linhas mestras do programa eleitoral a apresentar aos Portugueses.

O tema desta primeira reunião foram as PMEs enquanto centro da Política Económica. Numa reunião à porta fechada, para que o diálogo fluisse livre e produtivo, Manuela Ferreira Leite reuniu com duas dezenas de empresários e representantes de associações empresariais e da indústria e, novamente, escutou o que tinham a dizer.

Nesta nova fase, o ponto de partida para a discussão foram as propostas elaboradas pelo PSD com base na informação reunida ao longo dos Fóruns Portugal de Verdade, que decorreram entre Fevereiro e Maio últimos. Estas propostas, coligidas e publicadas no livro "Fórum Portugal de Verdade — das Ideias às Políticas", colheram a concordância generalizada de todos os presentes. Cada um dos empresários teve, ainda, a oportunidade de enriquecer o debate com as suas experiências empresariais e o seu conhecimento de causa.

O consenso foi geral. Os empresários presentes alertaram para situação gravíssima em que se encontra mais de 90% do tecido empresarial português que é composto por micro ou pequenas e médias empresas. Os problemas de tesouraria agravados pelos entraves ao crédito colocados pela Banca, a obrigação de liquidar o IVA no momento da emissão da factura, o facto de o Estado ser um mau pagador, estão a estrangular muitas PME's. Mas ao mesmo tempo que muitas empresas morrem, lançando os trabalhadores no desemprego, as dificuldades inerentes à criação de novas empresas, os custos implícitos, as garantias exigidas pela Banca, a falta de apoios nas fases de arranque e investimento e desenvolvimento de novas áreas de negócio, estão a afastar os jovens e novos empreendedores da iniciativa de criação de empresas.

Por outro lado, não se assiste em Portugal, desde a fase dos bancos da escola, ao incentivo da livre iniciativa e do empreendorismo nos jovens, antes fazendo o apanágio do emprego por conta de outrém. Aqueles que avançam, ainda assim, com os próprios negócios, tendem a fazê-lo com base no capital próprio mínimo, alugando os meios e as instalações, e usando o crédito bancário para cobrir as despesas correntes, mais do que para investir na empresa, cujo modelo é manifestamente frágil. Se a isto, se juntar a desprotecção social dos empresários quando as empresas não vingam, temos um panorama em que, como referiu um dos presentes, "pior do que termos empresas a morrer, é não termos empresas a nascer", enquanto que, nas palavras de outro dos empresários, "sendo que as PME's são a coluna vertebral da economia nacional, essa coluna vertebral está prestes a partir".

Para as PME's que conseguiram a internacionalização, a questão dos seguros de crédito é outra das dificuldades. "Simplesmente, não funciona", dizia um dos empresários que afirmou ter vindo a recorrer a bancos estrangeiros para conseguir o crédito de que necessita para a gestão do seu negócio.

Também os programas de apoio como QREN e as linhas de crédito PME INVEST I, II e III pecam pela desadequação à realidade do funcionamento das empresas, pelo que muitas não conseguem aceder a estes programas, ou conseguem apenas apoios quase residuais. Finalmente, a questão da Justiça em Portugal, em que morosidade dos processos conduz a uma situação de impunidade que inquina o bom funcionamento do sistema financeiro e do mercado empresarial.

Manuela Ferreira Leite colocou algumas questões que se prendem com o dia-a-dia das empresas portuguesas, obtendo respostas esclarecedoras por parte dos presentes. A líder do PSD manifestou, então, para surpresa de todos, a sua convicção de que "o principal entrave ao desenvolvimento das PME's é justamente o Estado, uma vez que não assegura as condições necessárias para que as empresas nasçam e prosperem sozinhas e de forma auto-sustentada", dando o exemplo da Justiça como um forte exemplo disto mesmo, uma vez que "é uma competência exclusiva do Estado assegurar que o sistema de Justiça funcione".

A reunião terminou já depois da hora, mas a sensação era de que terminava cedo demais. Para os empresários e representantes das associações e conferações empresariais presentes, esta foi uma oportunidade rara e uma iniciativa extraordinariamente válida de exporem livre e directamente a sua opinião à candidata a Primeira-ministra, numa reunião de trabalho que a todos pareceu proveitosa, e pela qual felicitaram Manuela Ferreira Leite e o PSD.

Ao longo dos próximos 30 dias, até 23 de Julho, o Forum Portugal de Verdade vai revisitar os temas abordados na primeira fase, debatendo agora as propostas elaboradas com base na informaçao então recolhida. O Emprego é o tema que se segue.

Fórum Portugal de Verdade

Como desenvolvimento das sessões do Fórum Portugal de Verdade, que decorreram entre os meses de Fevereiro a Maio do corrente ano, o PSD decidiu submeter as conclusões dessas sessões a diversas personalidades e representantes de classes profissionais e sectores de actividade que, de forma directa ou indirecta, estão relacionados com os temas que estiveram em discussão nos dez distritos do país em que a iniciativa teve lugar, por forma a que em relação às mesmas possam apresentar os seus contributos, sugestões e eventuais críticas.

Com este segundo conjunto de sessões, pretende-se debater, à porta fechada e mais em pormenor, as soluções e propostas que melhor servem os interesses dos portugueses, seguindo a matriz de verdade e confiança em que o PSD pretende assentar a sua actuação política.

Todas as sessões – que seguem os temas do Fórum - decorrerão em Lisboa, entre os dias 23 de Junho e 23 de Julho.

25/05/2009

Fórum Portugal de Verdade: das ideias às políticas

Em boa hora o PSD lançou o Fórum Portugal de Verdade.

O Fórum Portugal de Verdade, que entre Fevereiro e Maio percorreu dez distritos de Portugal, permitiu ao PSD encontrar-se com o País, os portugueses e a verdade.

Convidámos homens e mulheres com provas dadas nos mais diversos domínios da vida económica, social e associativa portuguesa, para que partilhassem connosco novas ideias e nos lançassem desafios.

Desafiámos novos protagonistas a participar e a apresentar soluções inovadoras, corajosas e de ruptura.

Tivemos, também, a oportunidade de ouvir de viva voz centenas de comentários de portugueses que não se resignam e que acreditam que é possível construir um país em que a verdade oriente quem nos governe.

Conseguimos fazer do Fórum Portugal de Verdade um espaço aberto à participação e às propostas das comunidades 2.0, que se encontram ligadas em rede. Milhares de cidadãos seguiram em directo pela net as sessões do Fórum Portugal de Verdade e foram muitos aqueles que passaram pelo Blog da Verdade.

No âmbito do Fórum Portugal de Verdade, debatemos questões de enorme relevância e significado para os portugueses.

A importância das PME's, a garantia de cuidados de saúde para todos, o combate ao desemprego, o direito das pessoas à segurança, as novas formas de pobreza, os desafios na educação, o abandono do interior, a importância estratégica do mar, a preservação do ambiente e a relevância do mundo rural foram temas abordados em encontros amplamente participados.
O Fórum Portugal de Verdade foi um espaço de liberdade. Todos aqueles que passaram pelo Fórum Portugal de Verdade tiveram a oportunidade de, em total liberdade e sem qualquer constrangimento, expor as suas ideias, as suas convicções.Quando noutros sítios se vive um clima de medo, de pensamento único e de receio de se dizer o que nos vai na alma, o PSD, mais uma vez, marcou a diferença. Pela positiva.

Recolhidas e compulsadas as Ideias, eis chegada a hora de construir as Políticas. Sempre fiéis ao País, aos portugueses e à verdade.

Maio de 2009

José Pedro Aguiar-Branco(Vice-Presidente do PSD)
Paulo Cutileiro Correia(Coordenador Executivo do Fórum Portugal de Verdade)

Vídeos da sessão de encerramento do "Fórum Portugal de Verdade"

Veja aqui as intervenções dos oradores na sessão de encerramento do "Fórum Portugal de Verdade".

20/05/2009

Fórum Portugal de Verdade: das ideias às políticas

Estivemos em dez distritos de Portugal e com milhares de Portugueses que nos seguiram em directo pela net.

Recolhemos ideias, sugestões, propostas de personalidades cujo currículo profissional e intervenção cívica são motivo de inspiração e de confiança.

É, pois, chegada a hora de fazermos um balanço do Fórum Portugal de Verdade.

Convidamo-lo(a) a estar presente na sessão do Fórum Portugal de Verdade, que se realizará no próximo dia 23 de Maio, pelas 15H00, no Porto - Edifício da Alfândega.

Agricultura: oportunidade, identidade, coesão social

O Fórum da Verdade dedicado ao tema “Agricultura: oportunidade, identidade, coesão social” decorreu em Rio Maior, a 18 de Maio, com uma elevada participação e com os trabalhos moderados por Henrique Granadeiro gestor mas também ele próprio agricultor.

Na sessão Henrique Granadeiro deixou dois apelos: que as eleições legislativas e autárquicas se realizem em simultâneo, e que haja uma verdadeira avaliação do “Estado da Nação”, lamentando a ausência de um orçamento rectificativo que permita ter uma “visão global” da verdadeira situação do País.

A escolha de Rio Maior e da agricultura para o último Fórum Portugal de Verdade foi uma forma de o PSD mostrar que este sector não é “o parente pobre da nossa economia”.


João Machado: “Houve uma devolução de verbas a Bruxelas de tal maneira inacreditável que nos últimos três anos foram desperdiçados centenas de milhões de euros de ajudas, algumas totalmente do orçamento comunitário”

O presidente da CAP, João Machado, referiu que Henrique Granadeiro, o moderador deste Fórum “sabe quase tanto como nós deste sector pois é um agricultor exímio”.

O primeiro orador do Fórum da Verdade adianta do que “a agricultura devia ser a identidade de um povo, um conjunto de oportunidades para os agricultores mas, também, para o mundo rural e para aqueles que trabalham na agricultura, bem como para os que podem desfrutar do campo tratado e dos produtos que a agricultura produz”.

João Machado frisou, igualmente, que a agricultura promove a coesão nacional. “ O território português sem a agricultura não tem coesão” disse, lembrando que cerca de 80 % do mesmo está ocupado ou por terrenos agrícolas ou florestais.

Para o presidente da CAP “ se não houver esta actividade principal que é a que liga as populações à terra e as fixa, nenhuma outra actividade económica o fará, e teremos um país ainda mais inclinado para o Mar do que hoje temos, bem como cada vez mais desertificado no Interior”.

João Machado adverte que “a agricultura devia ser olhada tendo em vista esse contributo especial, não só por produzir alimentos que são uma reserva estratégica indispensável para qualquer Estado soberano sobreviver, mas uma actividade que ocupa mão-de-obra”. Realçou, ainda, factores como o da protecção do Ambiente que é promovida pelos agricultores e a questão da prevenção dos fogos florestais.

O orador lembrou que os fogos florestais são provocados em boa medida por não haver agricultura e, consequentemente, o campo estar despovoado. João Machado realçou, ainda, o turismo e os produtos regionais como factor de promoção económica que levam ao reforço da coesão nacional.

Dessa forma considerou “ que a agricultura devia ser olhado pela sociedade e pelos políticos como um factor fundamental para o desenvolvimento do país”.

O presidente da CAP referiu que “desde 1986 que temos em Portugal a PAC – que não pedimos e que não desejámos até porque veio impor regras muito duras – mas hoje temos de viver com ela. E os agricultores são confrontados com a PAC todos os dias.

Por isso dizemos que a PAC é um direitos dos agricultores europeus, mas um dever dos governantes de a disponibilizarem para os seus agricultores. É assim em toda a Europa e também em Portugal” disse, adiantando que “quando as regras mudarem estamos também dispostos a mudar de paradigma”.

PAC não favorece Portugal

Neste momento a PAC não favorece Portugal e nos sete anos deste último quadro comunitário representou fundos de cerca de 4400 milhões de euros de investimento e pagamentos directos os agricultores de mais de 600 milhões de euros por ano, que poderiam ter ajudado o desenvolvimento do país, designadamente em momentos de crise económica.

O presidente da CAP fez uma apreciação muito negativa do que foi a aplicação da PAC a Portugal nestes últimos anos, frisando que em 2005, quando o actual governo socialista tomou posse, as candidaturas foram fechadas e nunca mais foram reabertas excepto durante quinze dias de Abril de 2009. Portanto, refere que “ as verbas do QCA anterior foram desperdiçadas enquanto o PRODER, o novo quadro comunitário devia estar em vigor desde 2007 e ainda hoje em 2009 os agricultores não têm acesso ao mesmo”.

Denuncia que o PRODER “ tem 18 medidas mas metade das quais não está regulamentada enquanto a outra metade não está disponível em termos de candidaturas. E mesmo a parte que está disponível em termos de candidaturas não está em execução, pelo que os agricultores ficam sem essas verbas para investimento. Nos últimos anos temos assim um quadro negro em termos de investimento e estamos a falar de verbas de 850 milhões de euros que não foram investidos nos dois primeiros anos do novo quadro comunitário de apoio”.

João Machado disse que “já todos nós já ouvimos o primeiro-ministro José Sócrates a prometer 1000 milhões de euros de investimentos para agricultura, primeiro para Novembro e depois para datas sucessivamente adiadas” frisando João Machado sentir-se “ofendido por este anúncio repetido, e pelos prazos sempre dilatados e nunca cumpridos”.

Para além disso, o orador refere que “ parece que o governo está a dar 1000 milhões de euros, o que é um dado errado, pois estes carecem de candidaturas e 700 milhões dependem dos agricultores sendo mesmo investimento privado, quando só 60 milhões é que são contribuição do Estado português”.

Criticou, ainda, o facto das medidas agro-ambientais terem sido suspensas em 2005, dizendo que “mal o executivo tomou posse parou tudo. Em 2005 tínhamos 85 mil agricultores candidatos às medidas agro-ambientais e hoje temos apenas 13 mil agricultores”, acrescentou.

João Machado acusou o ministro da Agricultura, Jaime Silva, de apesar de ter tido todas as condições, “nada ter feito, limitando-se a governar contra os agricultores, as suas organizações, e até contra os funcionários do Ministério”.

No seu entender, nesta legislatura, o Ministério da Agricultura foi destruído, gerando um “ desnorte total em todo o sector”. Além disso, acusou, “ houve uma devolução de verbas a Bruxelas de tal maneira inacreditável que nos últimos três anos foram desperdiçados centenas de milhões de euros de ajudas, algumas totalmente do orçamento comunitário”.

João Machado realçou que a reforma da Política Agrícola Comum que se vai iniciar em 2009 é fundamental, mas o futuro da agricultura portuguesa exige “uma reforma do ministro e deste Governo”, o qual acusou globalmente de promover um conjunto de medidas, a nível da educação e da saúde, que promovem a desertificação do país.


Firmino Cordeiro: “ As medidas do PRODER, muitas das quais ao fim de 29 meses ainda nem sequer estão em prática, foram criadas para um País que não é o nosso”

Segundo orador neste Fórum da Verdade Firmino Cordeiro, presidente da Associação dos Jovens Agricultores de Portugal (AJAP) considerou ter a vida facilitada por falar depois da intervenção do presidente da CAP.

Revelou ter estruturado a sua intervenção para falar de vários pontos, designadamente para frisar a “insensibilidade do governo ao longo destes quatros anos em relação à agricultura. Pensamos que é terrível ouvir o Ministro da Agricultura dizer “ que não há crise, pois para os agricultores não é fácil abandonar as suas explorações pois não sabem o que fazer aos animais, às vinhas ou às explorações, ou seja às infra-estruturas físicas que tiveram de desenvolver muitas vezes ao longo dos anos e com grandes problemas com a banca para se financiarem”.

A instalação de um jovem agricultor envolve muitos investimentos e ainda hoje os agricultores portugueses são dos mais envelhecidos da Europa com uma produtividade que é das mais baixas da Europa. Factores que se percebem “quando a superfície irrigada não é regada em cerca de um terço, e cerca de 56 % dos agricultores mantêm a actividade por motivos afectivos” referiu Firmino Cordeiro adiantando alguns dados negativos sobre o sector para dizer “ que estes deviam ter sido combatidos ao longo de uma legislatura facilitada pela maioria política e por programas que ainda vinham do anterior quadro comunitário anterior e que cessaram com este executivo do PS”.

Uma situação de paralisia que o presidente da AJAP qualificou de “trapalhadas sem sentido quando existe uma estabilidade governativa”.

Sobre o PRODER lembrou que se teve um período de vazio na transferência de um quadro comunitário para o outro frisando que “ mesmo ignorando as complicações do atraso este pouco vai resolver. As medidas do PRODER, muitas das quais não estão sequer em prática ao fim de 29 meses, foram criadas para um País que não é o nosso. Ao mundo rural profundo, adaptado e adaptável às exigências da UE em termos ambientais, foi retirado um dos seus principais apoios, as Medidas Agro-Ambientais”, lamenta. Adianta que “as actuais apenas mantêm o nome, mas são de tal forma exigentes que praticamente não se adaptam aos nossos agricultores”.

Organizações não foram ouvidas

O presidente da AJAP frisou que em relação ao PRODER as organizações de agricultores quase não foram ouvidas.

Firmino Correia garantiu que estão disponíveis como sempre e, mais uma vez, e em nome da AJAP “ para mostrarem a sua vontade de se associarem a projectos de futuro, em prol da valorização da actividade, e do desenvolvimento de melhores condições de vida nas zonas rurais”.

“Refiro-me concretamente à implementação do prometido banco de terras, refiro-me ao desafio de instalar mais jovens na nossa agricultura, refiro-me à necessidade de dinamizar as zonas rurais e de fixar pessoas capazes de as desenvolver” adiantou o orador.Falando no Mundo Rural realçou “o abandono constante da agricultura que tem conduzido a uma forte redução demográfica para valores inferiores ao limite da viabilidade de muitas zonas de Portugal”. Segundo Firmino Cordeiro o abandono do território “ é um dos principais problemas com que actualmente o país se confronta, isto a par com o envelhecimento dos empresários agrícolas. Ou seja, face às dificuldades em vez de irem para a agricultura os jovens deixam as gerações anteriores permanecerem na actividade muitas vezes até ao final da vida”.

O presidente da AJAP refere que “ para que um local seja atraente para que um jovem se fixe é necessário que tenha qualidade de vida, sendo urgente tornar o Mundo Rural mais apetecível para o investimento e para se inverter a tendência do seu abandono”.

Para além desta questão tão relevante para os jovens agricultores Firmino Cordeiro adverte que “ não nos podemos esquecer do reconhecimento da multifuncionalidade da agricultura, e a valorização das virtualidades resultantes de uma actividade agrícola que proteja o ambiente, a biodiversidade e as paisagens rurais, o que será fundamental para a viabilidade das regiões portuguesas com elevada tendência para o abandono do território por parte das populações”.

Ainda sobre o rejuvenescimento do sector deixou claro que “é essencial para o desenvolvimento do País a existência de jovens agricultores a apostar na inovação e na criação de novos projectos no espaço rural e a contribuírem para a criação de emprego”.

Para isso sugere a criação de um grupo de medidas que impulsionem o que chama de “ jovens empresários rurais que para além da actividade agrícola passem a desempenhar outras tarefas mobilizadoras da sociedade local em actividades conexas com a agricultura”. Dessa forma, frisa, “fomentava-se o espírito empresarial e garantia-se um adequado nível de rendimento”.

Recorde-se que em matéria de jovens agricultores o quadro actual é negro, e estes representam hoje apenas 2,9 % dos agricultores existentes em Portugal quando a média comunitária é de 5,3 %.

Firmino Cordeiro lamentou a posição assumida pelo Ministério da Agricultura “ que baseou a sua acção na perseguição aos agricultores e às suas organizações sem dessa atitude nada resultar de benéfico para o país”. Assim se perdeu “ a oportunidade de rejuvenescer a actividade agrícola pois durante 3 anos não se teve um regime de apoio à primeira instalação, e quando finalmente este surgiu o PRODER pecou por inúmeras intenções e omissões sem que no terreno nada se concretize” denunciou.

Firmino Cordeiro terminou a sua intervenção no Fórum da Verdade deixando algumas sugestões face à campanha de descrédito de alguns agricultores que tem sido orquestrada pelo governo dizendo ser importante “ enaltecer o papel dos agricultores junto da sociedade e lembrou que os melhores parceiros destes são mesmo os consumidores “.

Defendeu, ainda uma urgente reprogramação do PRODER. “Deve alterar-se o seu modelo de gestão burocrática e centralizada do PRODER” disse, adiantando “ que a agricultura é um sector estratégico para coesão território pelo que se deve apostar na cooperação com as organizações agrícolas “.


Rosário Alves: “As associações de produtores florestais de certo modo tiveram de se substituir ao Estado, e têm vindo a fazer um esforço de registo das pequenas propriedades que predominam nas mãos dos cerca de 400 mil proprietários que se estima existirem no país”

Rosário Alves Directora Associação Florestal de Portugal (Forestis) disse ter recebido o convite para participar nesta sessão do Fórum da Verdade quando se encontrava em Madrid “ e ao ver o fosso entre a situação que existe em Portugal e noutros países se viu na obrigação de contribuir para este debate”.

Trabalhando há 12 anos no sector florestal Rosário Alves considerou ” confrangedor o fraco desenvolvimento que se tem na floresta portuguesa face ao nosso elevado potencial”.

A especialista florestal optou ilustrar a sua intervenção com uma mostra de slides para revelar alguns dados relevantes sobre a floresta portuguesa, e desde logo para lembrar aos participantes que dois terços do território português estão ocupados por floresta que é uma componente importante de toda a nossa vida. Referiu que em Portugal se tem uma floresta mediterrânica bastante diversificada, e que representa para além das árvores um conjunto de oportunidades de prestação de serviços e de criação produtos.

Rosário Alves frisou que “somos dos países com maior biodiversidade da Europa”, Referiu que 97 % da nossa floresta é privada existindo 400 mil proprietários, e chamou a atenção para coexistirem zonas de minifúndio com outras propriedades de grande extensão, ambas com necessidades próprias de investimento.

A directora executiva da Forestis disse que ainda há muito por fazer no sector florestal, nomeadamente ao nível do cadastro das explorações e no inventário florestal, e que ainda não se tem encontrou um modelo de desenvolvimento que se adapte à realidade que existe em Portugal.

A técnica disse ainda que “têm sido as associações de produtores florestais de certo modo tiveram de se substituir ao Estado e têm vindo a fazer um esforço de registo das pequenas propriedades, que predominam nas mãos dos cerca de 400 mil proprietários que se estima existirem no país”.

Rosário Alves alertou os participantes no Fórum para os dois principais riscos das florestas, desde logo o dos incêndios florestais apesar de nos últimos três anos se ter por questões de clima, ou seja verões menos quentes, verificado algumas melhorias.

Outro problema que afecta a floresta é o das chamadas pragas adversas, designadamente a do Nemátodo da Madeira do Pinheiro (NMP) que em Portugal tem causado grandes prejuízos aos produtores e às indústrias. Mas muitas outras doenças que afectam a produtividade do país em termos florestais.

Rosário Alves defendeu a necessidade de se certificar todos os agentes das fileiras florestais, lembrando que se está num mercado internacional. Criticou que até ao momento o Governo considere “ que a certificação é um problema dos proprietários, e que eles é que o devem resolver o que coloca em risco fileiras importantes com ao do eucalipto, cortiça e pinheiro”.

Em termos de competitividade a técnica referiu que Portugal tem três vezes menos produção que a dos países tropicais, mas tem também três vezes mais do que a conseguida nos países escandinavos, pelo que a floresta é um relevante recurso para o país.

Rosário Alves pediu que os apoios que o Governo já disponibiliza à indústria também sejam estendidos aos produtores florestais, uma vez que todo o sector merece ser ajudado. “Dentro dessa lógica de incentivo, o Estado também deverá considerar importante um bom tratamento para os produtores florestais porque são estes que mantêm a floresta portuguesa de uma forma sustentável” explicou.

A oradora considerou que as Zonas de Intervenção Florestal (ZIF) são por um lado uma consequência evolutiva das experiências passadas dos agrupamentos de proprietários florestais e se afiguram “ como um bom instrumento para atingir objectivos como a defesa da floresta contra incêndios, aumento da produção e certificação da gestão florestal sustentável, através da transferência e profissionalização da gestão para a entidade gestora da ZIF”.

Rosário Alves chamou ainda a atenção para a existência de uma fiscalidade desadequada ao sector que faz muitos agentes resvalarem para a informalidade.

A especialista criticou igualmente a forma com funciona o Fundo Florestal Permanente, pois muito deste tem sido utilizado para cumprir funções do próprio Estado quando deveria ser antes utilizado para se reforçar o investimento no sector.

É inaceitável que numa situação de crise como a actual se estejam a perder milhões euros que podiam entrar no país para ajudar o sector agrícola, o que poderia ser um escape para o que se está a passar nos restantes sectores da economia.

19/05/2009

Fotografias da sessão "Agricultura: oportunidade, identidade, coesão nacional"



Veja aqui as fotografias da sessão "Agricultura: oportunidade, identidade, coesão nacional"

18/05/2009

"Agricultura: oportunidade, identidade, coesão nacional"

Hoje, às 21h, assista em directo à próxima sessão do Fórum "Portugal de Verdade":
"Agricultura: oportunidade, identidade, coesão nacional"

Apresentação da sessão "Agricultura: oportunidade, identidade, coesão nacional"

Veja aqui a apresentação da sessão "Agricultura: oportunidade, identidade, coesão nacional" feita pelo seu coordenador, Tiago Vasconcelos.

12/05/2009

Agricultura: oportunidade, identidade, coesão nacional

DATA: 18 de Maio
HORA: 21h
LOCAL: Rio Maior - Complexo Turístico do Gato Preto
COORDENADOR EXECUTIVO: Paulo Cutileiro Correia
COORDENADOR DA SESSÃO: Tiago Vasconcelos
MODERADOR: Henrique Granadeiro
ORADORES:
João Machado (Presidente da CAP - Confederação dos Agricultores de Portugal)
Firmino Cordeiro (Presidente da AJAP - Associação dos Jovens Agricultores de Portugal)
Rosário Alves (Directora da Forestis - Associação Florestal de Portugal)

11/05/2009

Ambiente: Construir o presente, preservar o futuro

O Fórum da Verdade dedicado ao tema “Ambiente: Construir o presente, preservar ao futuro” decorreu em Faro, a 7 de Maio, com uma elevada participação.

Os trabalhos a decorreram numa sessão moderada pelo ex-líder do PSD, Luís Marques Mendes, que frisou que “ a opção pelo tema do ambiente é inquestionável, pois numa altura em que todos trabalhamos com o conceito do desenvolvimento sustentável este tem uma importância capital”.

O moderador do Fórum realçou que “o desenvolvimento é económico e social, mas tem de dar sempre atenção à vertente ambiental”.


João Joanaz de Melo: “Portugal tem uma intensidade energética francamente pior do que a da União Europeia a 27, o que inclui já os países da Europa de Leste que tinham à partida uma eficiência energética muito pior do que a nossa”

A temática do Ambiente é não só a opção profissional da qual se ocupa há muito tempo mas, também, “uma área em que é activista” começou por referir João Joanaz de Melo Presidente do GEOTA – Grupo de Estudos de Ordenamento do Território e Ambiente e Professor Universitário.

“Quero começar por dizer que os ambientalistas são pessoas como as outras, com as suas ocupações profissionais, e que e nas horas vagas dão algum tempo a uma causa que é de todos, o Ambiente”, frisando ser esta uma situação que convém deixar clara na opinião pública.

“O Ambiente é uma temática difícil não por não se perceber que é importante, mas por todos pensarem que deve se resolvido não por nós mas pelos outros. Há pouca consciência de que somos todos parte desse problema, pois todos nós andamos de carro e usamos espaço que há anos atrás era um espaço natural. Mas, frisou “ as boas notícias é que somos também parte da solução, e o ambiente que queremos constrói-se todos os dias “.

O docente ancorou a sua exposição num conjunto de imagens e lembrou a história da política de ambiente em Portugal, com o surgir de várias associações, desde logo com a Liga para a Protecção da Natureza existente desde 1948 para chegar a 2009 e considerar “ que lamentavelmente a política de ambiente está a saque, e muito do que foi construído nos últimos 20 ou 30 anos está hoje em dia a ser posto em causa”.

Joanaz de Melo diz que “o quadro internacional é difícil com alterações climáticas provocadas pelo Homem, e o problema da não conservação da biodiversidade com a maior extinção em massa desde o desaparecimento dos dinossauros”.

Alertou para o facto de estar a acabar a época do petróleo barato, adiantando que mal acabe a crise económica o seu preço vai voltar a subir.

Joanaz de Melo referiu depois a temática da política energética, relacionada com a política de ambiente, e lembrou que “Portugal tem uma intensidade energética francamente pior do que a da União Europeia a 27, o que inclui já os países da Europa de Leste que tinham à partida uma eficiência energética muito pior do que a nossa”.

O docente refere que enquanto a maior parte dos países melhorou de forma muito substancial a sua eficiência energética nos últimos anos Portugal até 2007 veio a piorar nesse domínio, e a nossa eficiência energética é hoje de 83 %” ou seja “temos indicadores de politica energética dos piores que existem na Europa”.

Eficiência energética

Joanaz de Melo referiu as mais recentes medidas no sector designadamente a produção de energia eólica, a certificação de edifícios e a eficiência energética que começou as ser promovida a sério na maior parte dos países europeus há 30 anos, e também agora começou a ser impulsionada em Portugal.

Criticou, no entanto, a promoção de centrais de gás natural de forma desmesurada, e as barragens hidroeléctricas ou as centrais dedicadas de biomassa, bem como as novas travessias do Tejo referindo que estas são “ medidas apresentadas como sendo de eficiência energética mas que na realidade não o são”.

O docente referiu que “ a poupança em eficiência energética, ou seja o uso eficiente da energia em Portugal representa um potencial muito maior pois equivale a cerca de 30 % do consumo”. Ou seja, em comparação com o plano nacional de barragens vê-se que este representa, na melhor das hipóteses, 3 % da produção de energia eléctrica, e exige um investimento muito superior.

Não é por acaso que populações como as de Mirandela ou de Abrantes recusam logo no seu anúncio estas obras faraónicas, que ainda por cima do ponto de vista da eficiência energética e da eficácia dos investimentos são de facto extraordinariamente pobres, referiu João Joanaz de Melo. Por vezes argumenta-se que há uma colisão entre o ambiente e a economia, o que contesta. Mas alerta para o facto destes últimos casos existirem exemplos claros “ de como simultaneamente se estão a desviar investimentos que poderiam ser aplicados numa melhor eficiência energética do país” com a agravante de os estarmos a canalizar “ para outros que vão representar uma ínfima parte das necessidades de electricidade de Portugal”.

“Se nós queremos levar a questão do ambiente a sério temos de dizer verdade difíceis. E uma das coisas difíceis que devem ser enfrentadas é dizer claramente que barragens não são energia limpa e não protegem os ecossistemas, antes pelo contrário as barragens destroem ecossistemas”, diz Joanaz de Melo.

O orador adianta alternativas: “Precisamos de uma política energética a sério, o que implica uma política fiscal e económica que estimule um uso mais eficiente da energia, e precisamos de dar muito mais informação aos consumidores em geral, e também às empresas. Precisamos de promover as energias renováveis de baixo impacto, e de fazer uma avaliação séria dos impactos de grandes projectos que nalguns casos são fortíssimos consumidores de energia, e contribuem para a emissão de gases com efeito de estufa, situação que Portugal se comprometeu a salvaguardar perante a comunidade internacional”.

Joanaz de Melo mostrou aos participantes na sessão do Fórum da Verdade um mapa do Mundo que indica alguns dos chamados pontos quentes da biodiversidade. “Estamos preocupados com biodiversidade não por queremos ouvir os passarinhos, mas sim porque ela é o suporte da nossa vida, do ar que respiramos ou da água que bebemos. Nós estamos mesmo numa das zonas consideradas a nível mundial como das mais importantes para a salvaguarda da biodiversidade que é a bacia mediterrânica”, referiu. O docente universitário passou a apontar algumas medidas que tem sido postas em pratica, e as suas consequências. “Recentemente decidimos entregar a reserva ecológica nacional aos municípios. Aqui não está em causa se os municípios são piores ou melhores decisores que o governo, mas é inevitável que isso coloca uma maior pressão para haver um maior imediatismo nas decisões sobre a mesma, com uma completa perda daquilo que é uma visão nacional desta componente importante da salvaguardar e da prevenção de riscos”, refere. Adianta que “a reserva ecológica nacional serve para nós proteger em matéria de leito de cheias, de zonas de declive ou para proteger o litoral. Ora, tomou-se recentemente uma decisão de reduzir as coimas ambientais quando possivelmente se deveria fazer o contrário, ou seja apoiar quem tem bons comportamentos ambientais. A preservação da natureza tem de apoiar-se nas zonas protegidas, na chamada rede natura, e uma coisa que nunca foi seriamente discutida até hoje que é que quer os proprietários dos terrenos, quer as autarquias onde existem essas áreas da rede natura, tem de ser beneficiados”.

Joanaz de Melo considera que “é importante que se dêem sinais económicos de que quem está a proteger um bem público, e a prestar um serviço público ao país que é ter um terreno na reserva ecológica nacional, devia ser pago por isso. Ou seja, nas áreas que são benéficas para a sociedade, mas cujo ónus está nos proprietários privados estes deviam claramente ter um benefício com isso”. Segundo frisa o orador “temos de ter consciência destas situações, e perceber que só funcionam com um incentivo económico adequado. Este conceito de pôr o sistema económico a funcionar a favor da política de ambiente nunca foi aplicado a sério em Portugal, embora o seja noutros países há muitos anos”.

Gestão da água

Em matéria de gestão da água, que é outro dossier muito importante, Joanaz de Melo refere que “ se tem andado a fazer algumas coisas, apesar de com efeitos ainda relativamente limitados. O princípio fundamental é o da gestão da água por bacia hidrográfica, e outro muito importante é o do utilizador pagador. Ou seja, quem utiliza a água deve pagar por ela pois esta tem efectivamente um custo. Nós vamos sempre ter de pagar pela água, e ou pagamos na factura ou pagamos menos impostos. Eu prefiro pagar na factura, o que não me apetece é estar a pagar mais impostos para subsidiar quem desperdiça água ou energia, pelo que considero que se trata de um princípio de equidade social”.

Finalmente, a nível de ordenamento do território adiantou alguns dados que também podem ser uma surpresa para a maioria das pessoas.

“Em Portugal temos áreas declaradas como urbanizadas nos planos directores municipais que dão para construir casas para 40 milhões de habitantes quando nós temos 10 milhões de habitantes. Isto é um disparate monumental, pois cerca de meio milhão das casa estão devolutas o que representa 10 % do parque habitacional. Temos 1 % do território com o uso para construção efectivamente utilizado, mas temos 2 % com urbanização em espera e é impossível concretizar as infra-estruturas convenientemente”, refere. Alerta para o facto de termos “ ainda um problema sério de falta de qualidade de vida nos centros históricos” e diz que vale a pena ter muita atenção à segunda geração de PDM que está agora a começar.

“Todos nós temos o direito e o dever de olhar para o que o respectivo município está a fazer. Vale a pena começar a pensar em extinguir as expectativas irreais pois a construção como forma de desenvolvimento foi chão que deu uvas, pois não é um investimento produtivo. Devíamos era requalificar os centros urbanos”, refere. Joanaz de Melo diz que “temos de apostar não em criar mais obras megalómanas, mas em requalificar o espaço urbano onde nos já vivemos e nos transportes públicos”.


Poças Martins: “em cerca de seis anos é possível conceber, financiar e construir a maior parte das infra-estruturas de que nós precisamos no sector da água”.

“Vou basear a minha intervenção neste Fórum num dos pontos mais críticos que é o da água”, referiu Poças Martins engenheiro e o especialista neste sector, tendo integrado executivos do PSD.

“Tenho trabalhado há mais de 30 anos neste sector e a única surpresa é que daqui a 30 anos vai haver uma sessão como esta em que se vai tratar deste assunto”, alerta.

Segundo Poças Martins “contrariamente a outros artigos ou produtos a única certeza é que daqui trinta anos vamos continuar a respirar e a beber água, e alguns dos problemas não estarão resolvidos. Esta situação é recorrente e estamos perante problemas que são de ordem técnica, económica, social, ambiental e política”. “Curiosamente os espectros técnicos são porventura o mais fácil de resolver” refere, lembrando que teve a experiência e a oportunidade de ter contribuído para liderar processos de mudança, e que “em cerca de seis anos é possível conceber, financiar e construir a maior parte das infra-estruturas de que nós precisamos no sector da água”.

Segundo Poças Martins “tirando as muito grandes infra-estruturas como barragens, em meia dúzia de anos é possível resolver os problemas”.

Refere mesmo que “do ponto de vista económico os investimentos que faltam para resolver o problema do sector não são maiores do que alguns dos megas investimentos de que ouvimos falar. O dinheiro existe e é gasto noutras coisas porventura menos importantes. O caminho crítico não passa pelo sector técnico, passa certamente pela opção política. Ou seja, é um problema de falta de políticas adequadas em Portugal e a nível internacional”.

O caso do Algarve

No caso do Algarve há 15 anos atrás não se tinha construído as águas do Barlavento e do Sotavento e havia graves problemas de saneamento. “Penso que estamos todos de acordo quanto ao impacto positivo na economia e no turismo que decorreram de se ter resolvido parcialmente esses problemas”, refere.

Lembra que “não haveria turismo de qualidade sem se resolver estes problemas de ambiente, pois nenhum turista vem para um local onde falta água ou a praia não tem bandeira azul”.

Poças Martins abordou a situação de 2005 com uma seca grave em que se tinham planos de contingência mas ao mesmo tempo se verificava que existiam perdas muito elevadas de água ao longo da sua distribuição. Aliás, ainda hoje em muitos sítios do Mundo há locais onde se perde mais de metade da água, tal como acontecia em Portugal, por exemplo Gaia ou no Porto: Estas situações foram em boa parte resolvidas pois em Gaia de 50% de perdas passou-se para 19 %. Estamos a falar, assim, em poupanças enormes.
O orador abordou três questões que do ponto de vista político considera que ainda carecem de resolução. Desde logo determinar quem decide o quê a nível central, regional e local.

“Ao nível da decisão há uma grande confusão, e tem faltado coragem política para tomar uma resolução sobre esta matéria. A maior parte dos municípios portugueses são muito pequenos e possuem falta de sustentabilidade para providenciar um bom serviço ambiental no que diz respeito à água. Em Portugal temos municípios com 3000 habitantes e outras com 600 mil habitantes, mas os presidentes de câmara tem rigorosamente as mesmas competências” adverte Poças Martins.

O especialista no sector frisa que “um dos pecados originais de alguma falta de competitividade de Portugal decorre da sua quase troglodita divisão administrativa, pois não é possível resolver alguns problemas sem mexer nesta divisão. No que respeita a água leva-nos à necessidade de um dimensão regional para a resolução dos problemas, pois existem problemas demasiado grandes para uma pequena autarquia e demasiado pequenos para serem resolvidos ao nível de um país”.

Segundo Poças Martins para resolver esses problemas “é necessário solidariedade que é uma via de dois sentidos”. Lembrou mesmo que uma família do interior de Portugal paga metade de factura de água do que uma que vive num município grande, apesar de ser muito mais caro prestar o serviço no interior do que no litoral.

“Globalmente existe uma insustentabilidade geral ao nível do sector do abastecimento de água apesar da melhoria tremenda dos últimos 30 anos e dos fundos comunitários investidos “ refere lamentando que “às vezes do ponto de vista político pensa-se que basta legislar”.

Poças Martins frisa que “só em Portugal existe uma concepção elástica das leis, pois há leis publicadas que depois não se cumprem e não há fiscalização. Muitos destes problemas de solidariedade resolvem-se quando um governo diz que o litoral vai ajudar o interior ou vice-versa, mas depois na prática o sistema não se concretiza. Na água a solidariedade só num sentido não funciona, e é preciso um nível regional que tenha outros assuntos que não a água para que quem cede nesta ganhe noutros aspectos”.

Outro problema que subsiste é o debate público-privado, ou seja saber quem faz o quê, o que ainda não é claro. No último governo de Cavaco Silva que Poças Martins integrou foi aberta à iniciativa privada a gestão dos sistemas de água e de saneamento, e passados estes anos todos continuámos a não ter uma clara definição para o que faz cada um dos sectores.

O especialista refere que a nível internacional tem havido muitas modas e estes sistemas começaram por ser privados, depois passaram a públicos e depois regressaram aos privados e há vários exemplos quer de boa gestão pública quer privada. Mas é necessário haver regras claras, o que neste momento não há, e é fundamental do ponto de vista político que estas sejam estabelecidas pois não se podem pedir investimentos pesadíssimos sem depois haver um tempo de retorno suficiente.

Segundo Poças Martins “ também não é solução privatizar só porque não se sabe fazer o serviço. Hoje directamente os serviços das câmaras não têm elasticidade para resolver os problemas do abastecimento de água e do saneamento”.

Por fim, o orador abordou o problema da pobreza. Lembrou que tem milénios a luta contra a pobreza, e apesar de felizmente estarmos na parte rica do mundo, são precisas regras que não são hoje claras.

“Hoje não sabemos com devemos ajudar aquelas pessoas que não conseguem pagar a água” disse, lembrando que há casos de quem pagou a conta do quinto telemóvel da família mas depois não tem dinheiro para pagar a água. Há necessidade de resolver este problema dos mais carenciados pois ninguém pode ficar sem água em casa pelos próprios e pelos seus vizinhos.

Poças Martins voltou a frisar que os problemas da água estão por resolver por uma questão política, e recorda que neste domínio “é necessária a existência de estabilidade pois há assuntos que escapam à lógica político-partidária e não pode acontecer que cada ministro novo possa pôr em causa tudo. Estamos a falar de estratégias de implementação a 20 ou 30 anos e não podemos reinventar a roda e cada vez que existe um novo governo”.

Terminou dizendo que para resolver esta questão “é necessária uma plataforma mínima de entendimento que permita que as decisões tenham um período de vida de 15 ou 20 anos, caso contrário ninguém investe neste sector, sob pena de daqui a 30 anos numa sessão como esta estarmos a tratar rigorosamente dos mesmos assuntos”.


Gilberto Jordan: “Tomar iniciativas e ser mais ousado, investir mais do que é exigido, tudo isto acaba por ser uma convicção pessoal que temos de traduzir na nossa gestão empresarial diária”

Aceitei este convite “para transmitir o que nos move dentro do universo das empresas” disse o empresário Gilberto Jordan que comentou duas declarações de Joanaz de Melo nesta sessão do Fórum da Verdade.

“ Pessoalmente digo sempre que a defesa do ambiente é um acto individual. Cabe a mim cidadão fazer a reciclagem em casa e convencer os meus filhos a fazê-lo. Por vezes, não percebemos que existem novas categorias de reciclagem e são os filhos que nos chamam a atenção para esse facto” refere.

Gilberto Jordan refere que “ nas empresas também cabe aos gestores tomarem decisões individualmente para defender um investimento para alem da mera obrigação legal”.
“Tomar iniciativas e ser mais ousado, investir mais do que é exigido, tudo isto acaba por ser uma convicção pessoal que temos de traduzir na nossa gestão empresarial diária”, refere.

Comentando Joanaz de Melo e Poças Martins quando estes alertam que daqui a 30 anos estamos a discutir os mesmos temas, adiantou que participa em debates há 10 ou 15 anos e lembra-se logo de início se ter referido que “o bom era precisamente não existirem este tipo de debates pois significava que o problema estava resolvido. Infelizmente penso que vamos ter muitos anos de debates”.

O empresário lamentou que quando se fala de uma grande cidade com 400 mil pessoas residentes permanentemente como Quarteira seja sempre em tom negativo.
“Quem cita Quarteira como um mau exemplo no Algarve são pessoas que na maioria dos casos não foram sequer a Quarteira, não sabem o que aconteceu mos últimos anos”, adianta.

“ Recordo que Quarteira é metade da freguesia de Benfica e por isso num debate com Joanaz de Melo ou com os seus colegas ambientalistas muito radicais lembro que não é justo referirem sempre o Algarve como exemplo de má situação ambiental”.

“Aqui falo como algarvio” disse na sua pronúncia de estrangeiro, e perante os aplausos da sala.

Gilberto Jordan frisou que “infelizmente o impacto imobiliário faz com que o Algarve seja problemático a este nível do ambiente”. Mas, prossegue, “ a grande indústria do Algarve é o imobiliário pois nós não temos fábricas. Em suma, a nossa indústria é o sol e o turismo e temos de os potenciar pois sem eles a região seria muito pobre”.

O desenvolvimento sustentado passa inevitavelmente pela preservação do Ambiente, que deve voltar a estar presente de forma reforçada nas preocupações dos dirigentes políticos até pelas implicações económicas do mesmo.

08/05/2009

Ambiente: Construir o presente, preservar o futuro



Veja aqui os vídeos das intervenções na sessão "Ambiente: Construir o presente, preservar o futuro"

Fotografias da sessão "Ambiente: Construir o presente, preservar o futuro"



Veja aqui as fotografias da sessão "Ambiente: Construir o presente, preservar o futuro"

07/05/2009

Ambiente: Construir o presente, preservar o futuro

Hoje, às 21h, assista em directo à próxima sessão do Fórum "Portugal de Verdade":
Ambiente: Construir o presente, preservar o futuro

Construir o Presente, Preservar o Futuro

O Governo fala de defesa do ambiente, de desenvolvimento sustentável.

A Verdade demonstra que, nos últimos quatro anos, assistimos ao isolamento da politica ambiental. O ministério do Ambiente funcionou de forma sectorial, com uma listagem de acções, sem lograr da sua coerência interna – medidas avulsas sem sistematização – e sem consciência da sua coerência externa – sem coordenação com o governo como um todo, em particular sem coordenação com o Ministério da Economia e das Finanças. Por isso fracassou!

No século XXI exige-se uma visão transversal da política ambiental que terá no Ministério do Ambiente o seu catalisador.

Desenvolvimento sustentável só se consegue com uma politica ambiental estruturada, de forma a que todos os sectores a adoptem; uma visão de conjunto capaz de garantir a sustentabilidade das politicas sectoriais.

Esta é a Verdade conveniente.

Reflexão de Ivone Rocha, coordenadora da sessão "Ambiente: Construir o presente, preservar o futuro", do Fórum "Portugal de Verdade"

Ambiente: Construir o presente, preservar o futuro

DATA: 07 de Maio
HORA: 21h
LOCAL: Faro - Auditório do Complexo Pedagógico – Campus da Penha
COORDENADOR EXECUTIVO: Paulo Cutileiro Correia
COORDENADOR DA SESSÃO: Ivone Rocha
MODERADOR: Luís Marques Mendes
ORADORES:
João Joanaz de Melo (Presidente do GEOTA - Grupo de Estudos de Ordenamento do Território e Ambiente e Professor Universitário)
Joaquim Poças Martins (Engenheiro)
Gilberto Jordan (Empresário)

06/05/2009

O Mar: desafio estratégico para Portugal



Veja aqui os vídeos das intervenções na sessão "O Mar: desafio estratégico para Portugal"

O Mar: desafio estratégico para Portugal

O Fórum da Verdade dedicado ao tema “O Mar: desafio estratégico para Portugal” decorreu em Viana do Castelo, a 4 de Maio, com uma elevada participação.

Com os trabalhos a decorreram numa cidade desde sempre ligada à pesca e às actividades correlacionadas com o Mar, o moderador da sessão, o ex-ministro Duarte Silva, lembrou que o Mar era dos temas mais estudados em Portugal, sendo certo que hoje em dia são escassos os que se lhe dedicam, exclamado mesmo que “hoje há mais portugueses a esquiar do que a andar no Mar”.


António Miguel Cunha: “o futuro de Portugal está novamente no Mar, com a pesca a representar o papel importante que sempre teve no desenvolvimento socio-económico do país”.

António Miguel Cunha presidente da ADAPI (Associação dos Armadores de Pesca Industrial) foi o primeiro orador neste Fórum da Verdade, e lembrou que a costa portuguesa representava a maior Zona Económica Exclusiva mundial.

A nossa vocação para o Mar e as excepcionais condições da costa portuguesa levam-no a afirmar “ que o futuro de Portugal está novamente no Mar, com a pesca a representar o papel importante que sempre teve no desenvolvimento socio-económico do país. Em 1986 com a adesão de Portugal à então CEE foi criada uma janela de oportunidades a par de uma série de restrições, designadamente a diminuição da frota pesqueira que o sector português soube enfrentar com dinamismo e coragem, mesmo na ausência de uma política estratégica que nenhum dos sucessivos governos quis, ou foi capaz de assumir”.

Por um lado – considera António Miguel Cunha – “a eficácia da utilização dos recursos, e os investimentos feitos para modernizar a frota, trouxeram uma capacidade acrescida, mesmo que as restrições de actividade levassem a que ao fim de 20 anos o sector viesse a representar apenas 0,3 % de valor acrescentando do PIB”.

Segundo o orador “ apesar deste indicador macroeconómico a pesca continua a ter um peso inquantificável na coesão socio-económica das zonas ribeirinhas, e na identificação cultural do país, dando à população um alimento que é considerado como tendo as gorduras mais saudáveis”.

Portugal tem hoje uma frota de menor dimensão mas tecnologicamente bem equipada, mais eficiente e moderna com equipamentos de segurança, de navegação e de processamento de pescado que permitem que seja mais competitiva do que qualquer outra frota mundial. Em 2002, com a reforma da Política Comum de Pescas (PCP) a pesca portuguesa foi novamente confrontada com novas fortes restrições à actividade da frota pela adopção de políticas de preservação de recursos nas águas comunitárias que não tiveram, nem de perto, nem de longe, o alcance que pretendiam.

Esta constatação leva a que António Miguel Cunha considere que “se tenham de repensar os princípios da actual Política Comum de Pesca, razão pela qual a Comissão Europeia pretende a responsabilidade ecológica como sendo o princípio e fim de toda a pesca, e a sustentabilidade económica como seu mero efeito. Não sei se isto é possível, mas é muito ambicioso” adverte.

Referindo que o sector das pescas vai ter muitas dores com estas novas orientações António Miguel Cunha considera tratar-se de uma orientação aceitável. Em seu entender “as regras comunitárias deverão ser mais simples e mais fáceis de aplicar. A Comissão Europeia tem ao longo dos últimos anos avançado com legislação muito pesada e de difícil aplicabilidade, e que nos tem penalizado fortemente” critica.

Refira-se que actualmente se está a olhar para fora da União Europeia para se promover a pesca responsável à escala global. Recorde-se que a União Europeia importa cerca de 60 % do pescado que consome sem poder garantir que este é proveniente de pesca bem regulada.

Circuitos paralelos

“Só em Portugal penso que a pesca comercializada nos circuitos paralelos representa mais de 60 milhões de euros” referiu o orador. António Miguel Cunha considera que basta uma conta simples: “temos cerca de 6000 embarcações, e destas só 3200 vendem regularmente na lota. Se fizermos uma média anual muito por baixo, de uma venda anual de 20 mil euros, que é uma quantia irrisória, temos valores muito superiores de pesca comercializada no circuito paralelo, e isto é um drama”. Em seu entender “bastava haver vontade política em Portugal para que este mal fosse erradicado, pois ele existe na falta de melhores regras no licenciamento das embarcações de pesca”.

Como os valores de venda em lota são extraordinariamente baixos a partir do momento que o armador opta pela informalidade afecta toda a concorrência dentro do mesmo ramo de actividade.

António Miguel Cunha defende que “ é necessário reorganizar com urgência a Docapesca adaptando-a à dimensão do actual sector. É necessário desburocratizar todos os sistemas de licenciamento e dos documentos das embarcações”. A título de exemplo referiu que para abastecer de combustível um navio são necessários requerimentos a três entidades diferentes, o que não faz qualquer sentido.

O orador defendeu uma manutenção cuidada e permanente dos portos portugueses. A pesca portuguesa exige que sejam criadas condições de operacionalidade que não penalizem mais o sector.

“Devemos igualmente alterar o estatuto social das profissões marítimas, com primazia à componente pratica da formação profissional” adiantou. “Não se pode aceitar que o único organismo acreditado para dar formação para o Mar esteja há um ano para ser posto em funcionamento, depois de ter nascido de duas outras instituições que já estavam a funcionar. Acabaram com a escola de pesca e não criaram alternativas”, denuncia.

Para a discussão da nova Política Comum de Pesca e o estabelecimento do plano de ordenamento para disciplinar as novas actividades do Mar defende que “é imperativo que o governo e os eurodeputados se empenhem numa política estratégica para a fileira da pesca”.

“Estivemos demasiado tempo de costas voltadas para o Mar, mas não tenho dúvidas que está aberta uma ampla janela de oportunidades, e que não a devemos negligenciar sob pena de perdemos definitivamente a capacidade para explorar esse bem essencial de riqueza e de conhecimento. O desafio que proponho é a criação de uma Secretaria de Estado dedicada às pescas e liderada por alguém que conheça a história e o sector, e seja capaz de transmitir confiança a quem quer continuar a investir na pesca”, frisou António Miguel Cunha.


Damião de Castro: “é necessário tomar as medidas adequadas para aumentar a quota do transporte marítimo em relação a outros modos de transporte como o aéreo, ferroviário e rodoviário”.

O Ex-presidente da Administração do Porto de Lisboa, Damião de Castro, frisou que “em todos os tempos as pessoas ansiavam pela verdade, mas que nos dias de hoje mais do que nunca esta seja desejada por razões éticas e morais”.

Abordando os temas dos Portos e das plataformas logísticas o orador diz que é uma matéria que tem estado, e muito, na comunicação social, mas infelizmente não pelas melhores razões.

Damião de Castro refere que em 2006 foram apresentadas publicamente as orientações estratégicas para o sector marítimo e portuário considerando-as “ um conjunto de generalidades sem qualquer expressão na melhoria dos serviços”. O orador analisou a legislação lembrando a polémica em torno do alargamento do terminal de contentores de Alcântara, em Lisboa. Referiu que logo na altura um conjunto de pessoas com experiência no sector tomou posição sobre a matéria.

“Pessoalmente disse na altura que nunca assinaria aquele contrato, mas expliquei e as razões” referiu. Adianta que o plano financeiro da construção do terminal de Alcântara previa um aumento de carga de 9 % quando actualmente esta está a cair 20%. Alerta, assim, que “este desvio implica custos para os contribuintes que são elevados e desnecessários, pois todos sabemos quem paga” acrescenta mesmo que “de momento o que me ocorre é pedir ao Tribunal de Contas que faça o seu trabalho”.

No dossier dos Portos o orador frisa que queria apenas deixar um pedido aos actuais decisores: “ Não venham com uma lei de Portos feita à pressa, e em fim de legislatura, aumentando o prazo das concessões portuárias para 75 anos para resolver um problema que os próprios criaram.

Plataformas logísticas

Também em 2006 foram anunciadas onze plataformas logísticas. “Falava-se 1100 milhões de euros e um acréscimo de 5000 postos de trabalho. Ainda a notícia andava nos jornais e já se anunciava mais uma plataforma para Castanheira do Ribatejo, investimento de 400 milhões de euro implicado a criação de 7000 postos de trabalho directo e dezoito mil indirectos. Mais uma vez números feitos à pressa sem qualquer estudo de apoio”, denúncia.

Damião de Castro refere que “ em 2008 o governo regulamentou as plataformas logísticas mostrando sofrer do síndrome terrível de tudo querer controlar, tudo querer influenciar. Não há espaços nessa legislação para as associações comerciais e industriais emitirem a sua opinião face a esta clara falta de visão para o sector”, acusa.

O orador adverte que “só devemos anunciar empreendimentos se tivermos a certeza que são realizáveis. Parece básico mas garanto-vos que a actual realidade é bem diferente. Damião de Castro defende que se devia ter prosseguido com a anterior política seguida por executivo do PSD conferindo “maior eficácia e rapidez nos serviço portuários, portanto maior competitividade a Portugal. Na prática isso passa por dotar os portos de infra-estruturas e equipamentos adequados que permitam consolidar sistemas de segurança e de informação”.

Em seu entender é urgente “tomar decisões justas sobre o sector, ouvindo sempre as partes interessadas que acumulam anos de experiência. Os portos e as Plataformas logísticas servem os empresários e estes devem ser envolvidos nas decisões.”

Damião de Castro considera que “é necessário tomar as medidas adequadas para aumentar a quota de transporte marítimo em relação a outros modos de transporte como o aéreo, ferroviário e rodoviário. As vantagens em relação a este último são evidentes, como o descongestionamento das estradas e diminuição da poluição”.

Lembrou que “ o investimento nos Portos é altamente rentável a vários níveis, desde logo na indução do investimento privado, na criação de postos de trabalho e nos efeitos sobre o PIB. Estima-se que um euro investido pelo sector público nos Portos induz nos anos seguintes a um investimento privado de 84 euros”.

Em matéria de criação de emprego o orador refere que “cada milhão de euros investido nos Portos corresponde a 4800 postos de trabalho, e que no PIB por cada euro nos Portos haverá um crescimento económico de 107 euros”.

Fazendo comparações com a vizinha Espanha o especialista lembrou que esta é 5 vezes maior em área e em população, e que no ano passado a carga ali movimentada foi de 470milhões de toneladas, enquanto em Portugal 63 milhões. Ou seja, em Espanha a carga movimentada foi cerca de 7,5 vezes maior do que a carga em Portugal.

Por outro lado, Portugal investiu nos Portos nos últimos cinco anos 400 milhões de anos enquanto em Espanha este investimento foi de 7000 milhões, ou seja, cerca de 20 vezes mais.

O impacto dos Portos na nossa economia e naquilo que exportamos e importamos foi abordado pelo orador dizendo ser “ urgente dar atenção ao sector. Para exportar é importante ter boas infra-estruturas, mas isso só por si não basta. Pelo que exportar nos dias de hoje é mais do que uma necessidade, é um imperativo nacional para conservar postos de trabalho e manter posições nos mercados internacionais”.

Damião de Castro refere que “ na presente crise há um dado assente: os países que dependem do comércio internacional são os mais afectados. A logística integrada é um factor diferenciador entre outros, que estão ao alcance do governo, que deve dar todo o apoio ao sector exportador. Os decisores políticos devem compreender que a situação só terá solução se o país inteiro for motivado. A prioridade não pode ser outra do que a de acudir às pequenas e médias empresas, e em especial às que exportam”.

Por fim, o orador frisa que “o Mar abre imensas possibilidades. Assim o saibamos nós aproveitar no presente e no futuro como os nossos antepassados o fizeram. Só assim faremos o Portugal grande no contexto das Nações”.


Vítor Verdelho Vieira: “Estas cidades oceânicas, um sonho que se vai tornar um dia realidade, serão organizadas de forma modular, e assentes sobre o equivalente a plataformas petrolíferas”

Vítor Verdelho Vieira começou por avisar os participantes no Fórum que a sua intervenção iria ser um pouco polémica. “Quero dizer-vos que Portugal é uma ilha, e explicar-vos as razões que me levam a assim pensar” referiu o presidente da NECTON – Companhia Portuguesa de Culturas Marinhas.

“Olhando para um mapa vemos que não é exactamente uma ilha” refere, adiantando que “se olharmos apenas para um bocadinho de Portugal, a que alguns chamam uma jangada de pedra, vemos que há muito Mar aqui à volta”. Para o orador Portugal “é uma ilha porque temos 1243 quilómetros de fronteira terrestre com Espanha, e desta cerca de 234 quilómetros são cursos de água, ou seja também é uma fronteira fluvial, pois estamos separados apenas por uma linha de água”.

Já a linha de costa é de 1230 quilómetros o que é assinalável para um país com a dimensão de Portugal, a que acresce o facto dos Açores e da Madeira terem também uma linha de costa muito relevante.

O orador frisa que isto tem a ver com “a ideia das cidades oceânicas”, adiantando que se já hoje a Zona Económica Exclusiva (ZEE) de Portugal é uma das maiores da Europa, vai ser apresentada a 13 de Maio uma proposta para o alargamento desta zona, “o que em meu entender é um dos factos mais importantes para o nosso país dos últimos anos”.

Vítor Verdelho Vieira refere que “este alargamento vai dar-nos uma posição completamente diferente”, pois se “actualmente Portugal em termos de superfície terrestre está colocado no lugar 110 a nível mundial, se passarmos a incluir a zona económica exclusiva passamos a estar no 15º lugar, ou seja podemos alterar completamente a nossa posição mundial”.

Esta é em sue entender “ uma das razões pelas quais os Oceanos são uma grande oportunidade para Portugal, pois nós deixaremos de ser o país 110º, para ocupar a 15ª posição, o que nos dá uma responsabilidade acrescida e gera muitas oportunidades”, adianta.

Entre estas oportunidades estão as cidades oceânicas, pois na opinião do orador “se pensarmos no futuro a 30 ou 40 anos vão existir cidades no Mar. E vão existir por uma razão muito simples, a de que só vamos conseguir proteger o Mar se estivermos lá para o proteger, o que significa explorá-lo de uma forma racional e equilibrada”.

Alguns países já começaram a perceber isto, ou seja que é preciso mudar o paradigma na relação com o Mar. “Se sabemos como vai ser o futuro porque não antecipar e começar a construí-lo já hoje?” questiona Vítor Verdelho Vieira .

Os primeiros países a criarem cidades mo Mar, e a protegerem dessa forma a sua área oceânica, vão ser os países que vão estar na liderança. “Espero que Portugal vá ser um desses países. Mas construir cidades no Mar é um desígnio nacional, e vai acontecer”, garante.

“Portugal vai ter cidades no Mar. A questão é saber se vamos ser dos primeiros ou não, porque ter cidades no Mar é crítico para explorar a plataforma continental”, refere.

Segundo Vítor Verdelho Vieira “se não tivermos lá as cidades, se não tivermos uma ocupação territorial real, não conseguiremos assegurar a exploração da nossa plataforma continental”. Lembra que esta já era a estratégia seguida pelos nossos antepassados quando queríamos explorar os diferentes territórios. D. Dinis com a Lei das Sesmarias tomou a primeira iniciativa de colocar colonos e pessoas nas diferentes regiões, e isso é uma política que vai acontecer séculos depois em relação ao Mar.

Cidades auto-suficientes no Mar

“A ideia das cidades oceânicas consiste em colocar cidades junto ao limite da plataforma continental, sendo estas cidades auto-suficientes e capazes de serem selectivamente especializadas conforme a sua localização”, refere o orador. Estas devem adoptar uma lógica de cidades flutuantes com interacções com terra. Segundo Vítor Verdelho Vieira estas cidades “não fugiriam muito ao que a lei portuguesa prescreve como cidades, ou seja agrupamentos com 8000 eleitores. A estas cidades seria necessário dar uma espécie de carta de foral, ou seja, estas cidades vão ser zonas francas que vão ter muitos benefícios para atrair pessoas para essas novas localizações”.

Para além disso, as cidades oceânicas terão como factor crítico de sucesso o estarem irmanadas com cidades em terra. Por exemplo, a cidade que estiver ao largo de Viana do Castelo vai estar irmanada com esta que é a cidade que será a sua ligação em terra.

“E é interessante estar precisamente em Viana do Castelo a anunciar-vos este facto com 40 anos de antecedência” realçou Vítor Verdelho Vieira . Perante a movimentação da assistência o orador frisou: “Estas cidades vão existir. Não tenho dúvidas. E terão cerca de 50 mil pessoas envolvidas, quer os tais residentes, quer pessoas em terra mas que a elas vão estar ligadas”. Segundo adiantou “ um indicador muito simples para verem que não é uma ideia inviável passa por pensar que o PIB per capita destas pessoas vai se de certeza muito superior a 50 mil euros por ano”.

Estas cidades oceânicas, um sonho que se vai tornar um dia realidade, serão organizadas de forma modular assentes sobre o equivalente a plataformas petrolíferas. As primeiras cidades vão tirar partido de plataformas petrolíferas abandonadas, que em vez de serem afundadas com elevados custos para o ambiente passarão a ser ampliadas e alargadas, criando-se nelas novos serviços e aumentando o seu tempo de vida.

Vamos assim utilizar essas plataformas petrolíferas, e para que se pudesse ter uma noção da dimensão recordou que o maior paquete do Mundo tem 4300 passageiros.
“Não estou a falar de coisas muito complexas, estou a falar de pequenas cidades que terão claramente cinco áreas de actividade principais” referiu Vítor Verdelho Vieira que explicou depois o seu funcionamento.

Serão cidades do tipo estrelas-do-mar, com uma área dedicada aos transportes, pois terá de haver um heliporto e uma série de docas para barcos e submarinos que circulem nessas auto-estradas que vai ser necessário criar.

Terá de haver também uma área de serviços em que existam actividades de gestão, de investigação, de ensino e serviços ao exterior. Estas cidades estarão todas ligadas por cabo submarino.

Haverá seguramente uma área de produção industrial desde logo para a produção de água potável e, evidentemente, uma forte componente de aquicultura e de transformação de pescado. Estas cidades terão uma vertente muito relevante na possibilidade de produzirem energia eólica e solar e provavelmente termodinâmica porque a 600 metros de profundidade a temperatura da água é de quatro graus quando à superfície esta é sempre superior, pelo que se pode aproveitar esta diferença e poderemos ter energia termodinâmica que é completamente renovável.

Outro factor de desenvolvimento destas cidades será o sector do turismo que inevitavelmente se vai desenvolver com áreas de lazer. Ou seja, serão cidades que não dependerão apenas de um sector económico.

“Estas cidades como devem imaginar vão ter um impacto muito grandes nas suas cidades irmanadas, designadamente na construção naval, pois serão preciso veículos submarinos e anfíbios que permitam transportar as pessoas e o que aí se produza” referiu Vítor Verdelho Vieira .

Haverá, assim, um ressurgimento de toda a construção naval associada, e Viana do Castelo “está particularmente bem posicionada para a indústria naval”, realçou o orador. Mas também sectores com o da aeronáutica se irão desenvolver com as cidades oceânicas pois os aviões assegurarão boa parte dos transportes. Será necessário haver uma adaptação das aeronaves actualmente existentes para hidroaviões que operem para estas cidades. A construção civil marítima terá também um grande incremento.

Vítor Verdelho Vieira citou, finalmente uma área “que parece muito relevante, que será o relançamento completo de todo o têxtil e o calçado, pois serão necessários novos tipos de vestuário e de calçado. Nos países em que exista indústria têxtil estas cidades vão ser uma oportunidade de renascimento desse sector”.

O orador estima que estas cidades oceânicas vão ter em terra um impacto muitíssimo relevante. “Os factores críticos de sucesso para que isto seja possível são poucos, e basicamente em Portugal existem condições para se fazerem oito destas cidades” refere. Os locais possíveis e óbvios em termos de plataforma continental e de recursos e movimentos de correntes oceânicas apontam para que em Portugal se poda ter pelo menos oito cidades oceânicas.

Vítor Verdelho Vieira refere que “ para que estas cidades sejam construídas rapidamente é preciso que exista uma fusão de energias sectoriais de vários sectores que possam convergir para a sua criação. É necessário um ordenamento do território diferente, pois a actividade de aquicultura vai ser relevante. Nestas cidades tal como nas terrestres irá ter de haver planos directores municipais, pois à volta destas cidades irão seguramente nascer muitas explorações de aquicultura e de energia solar. Em suma, muitos pólos de desenvolvimento e de atracção de pessoas”.
Finalmente para que estas cidades sejam possíveis é preciso uma grande liderança macro-empresarial.

O orador terminou esta parte da viabilidade dos factores críticos de sucesso falando da necessidade da criação de um Ministério do Mar na óptica de que a nossa Zona Económica Exclusiva nos vai catapultar para os quinze primeiros a nível mundial.
“Tem de haver um Ministério do Mar e um novo alinhamento, uma nova forma de pensar o território que vai ser também o Mar. E num futuro muito longínquo boa parte da população vai viver na orla marítima, e com ligação estreita a estas cidades do Mar” advertiu.

A investigação e desenvolvimento são fundamentais e por isso o orador considera que “em Portugal é inacreditável que o IPIMAR, que é o instituto desta área, esteja dentro do Ministério da agricultura”.

“Vai ter de ser exactamente ao contrário”, frisa. Vai ter de haver um mega instituto do Mar, e um pequeno instituto para a Agricultura e para a exploração do área terrestre, sector que nos últimos nove mil anos temos andado a trabalhar a nível da exploração agro-pecuária e agrícola.

“O Mar é um território completamente virgem no qual é necessário um investimento em investigação e desenvolvimento fazendo todo o sentido a existência de um instituto com vários pólos espalhados pelo país”, adianta.

Finalmente, é necessário que as maiores empresas portuguesas estejam totalmente envolvidas neste tipo de iniciativas, pois será uma área de negócio importante. Não é com micro empresa que se irão fazer cidades no Mar embora depois estas possam ter o seu papel.

O orador considerou, por outro lado, que “ é crítico que a nível do ensino exista uma Universidade dos Oceanos. Portugal devia dar o exemplo e criar uma Universidade internacional do sector”.

Vítor Verdelho Vieira refere que na sua empresa têm antecipado o futuro. Trata-se de uma empresa de biotecnologia marinha “e quando nos dizem que há algo impossível nós vamos por esse caminho. Há dez anos atrás diziam-nos que era impossível ter plantas sem luz durante noves meses, e encontramos uma solução para este problema. Desenvolvemos um produto que é vendido a escala internacional para maternidades de peixes em que vendemos micro algas” adianta, lembrando que são líderes internacionais na produção de micro algas para aquacultura e para cosmética.

Tal como foi no passado o Mar é hoje um factor determinante para o desenvolvimento futuro de Portugal. O país com a maior Zona Económica Especial tem de saber transformar a pesca e a actividade portuária em alavancas de desenvolvimento.

05/05/2009

O Mar: desafio estratégico para Portugal


Veja aqui as fotografias da sessão "O Mar: desafio estratégico para Portugal"

04/05/2009

O Mar: desafio estratégico para Portugal

Hoje, às 21h, assista em directo à próxima sessão do Fórum "Portugal de Verdade":
O Mar: desafio estratégico para Portugal

27/04/2009

O Mar: desafio estratégico para Portugal

DATA: 04 de Maio
HORA: 21h
LOCAL: Viana do Castelo - Hotel Axis Viana
COORDENADOR EXECUTIVO: Paulo Cutileiro Correia
COORDENADOR DA SESSÃO: João Alpendre
MODERADOR: Duarte Silva (Presidente da Câmara Municipal da Figueira da Foz)
ORADORES:

Vitor Verdelho Vieira (Presidente da NECTON - Companhia Portuguesa de Culturas Marinhas, SA)
António Miguel Cunha (Presidente da ADAPI - Associação dos Armadores de Pesca Industrial)
Damião de Castro (Ex-Presidente da Administração do Porto de Lisboa)

Desigualdades no país: abandono do interior vs oportunidades do interior

A sessão do Fórum da Verdade dedicado ao tema “decorreu em Viseu, a 23 de Abril, e contou com uma elevada participação.

Miguel Branco-Teixeira, coordenador da sessão lembrou que “ embora a população portuguesa se mantenha próxima dos 10 milhões de habitantes, estima-se que, em 2015, as áreas metropolitanas de Lisboa e do Porto deverão possuir mais de 70% da população do país. Depois de Lisboa e do Porto, as maiores cidades não chegarão aos 200.000 habitantes, o que significa que o país continuará a não ter verdadeiras as cidades médias. Importa, pois, alterar esta situação, desenvolvendo uma malha de cidades médias que seja a âncora do equilíbrio e da coesão do Território nacional. Pela sua dimensão, as cidades médias têm a massa crítica necessária para oferecerem serviços, equipamentos, infra-estruturas e oportunidades exigidas na actualidade pelos cidadãos”.


Jorge Nunes: “o reforço inevitável do relacionamento bilateral não pode omitir o território fronteiriço como espaço de interface dos territórios, nem deixar de o considerar como um espaço de centralidade e não de periferia “

Jorge Nunes, presidente da câmara Municipal de Bragança e primeiro orador neste Fórum abordou o tema da interioridade e coesão, uma nova visão para o desenvolvimento do país no seu conjunto.

Começou por fazer uma abordagem aos territórios ibéricos fronteiriços. “A extensa fronteira luso-espanhola que se estende por 1243 quilómetros é a mais extensa da União Europeia” lembrou, adiantando que “com a adesão de Portugal e Espanha à então CEE a sinergia de cooperação nas várias áreas, social, política e económica tem impulsionado dinâmicas de relacionamento bilateral muito significativas baseadas na proximidade geográfica e na cultura e identidade”. Foi com esta nova realidade que se criaram “novos desafios que Portugal tem de converter em oportunidades”, adianta.

Segundo o autarca “o reforço inevitável do relacionamento bilateral não pode omitir o território fronteiriço como espaço de interface dos territórios, nem deixar de o considerar como um espaço de centralidade e não de periferia que atravessa a Península ibérica e que tem de contar para a coesão e para a competitividade”. A nível das dinâmicas fronteiriças adiantou que a dinâmica de povoamento é positiva nos dois extremos Norte e Sul Minho e Algarve, e regressiva no corredor central com o abandono do dos núcleos mais pequenos para as cidades, e para as capitais territoriais com funções urbanas com mais estruturas.

Jorge Nunes refere que “ a fronteira continua a ser um espaço periférico em termos produtivos com economia débil e insuficiente capacidade de atracção de novas unidades produtivas e de retenção de talentos”. Também se detectam baixos indicadores a nível dos cuidados de saúde ou de educação, e carências nas redes de infra-estruturas. Frisou, ainda, que existem zonas de fronteira sem transportes públicos. Mas o autarca detecta “dinâmicas positivas no mercado de trabalho e na mobilidade, bem como na cultura e na área de relacionamento entre instituições regionais e locais.

Chama a atenção para as diferenças fronteiriças, pois o espaço português não é homogéneo em termos económicos e populacionais. Verifica-se que a densidade populacional varia desde os 223 habitantes por quilómetro quadrado no Cávado, até aos apenas 15 habitantes no Baixo Alentejo.

Avaliando as desigualdades entre as NUT III portuguesas e espanholas o autarca referiu que existe uma maior fragilidade dos territórios na zona portuguesa.

“Portugal é um país de grandes desigualdades, e nas últimas décadas foram desenhados dois países de economias divergentes. Por um lado, o litoral e o interior, por outra Lisboa e o resto do país. Este último concentra a população, a economia e a decisão política, enquanto no Interior continua o despovoamento e o encerramento de serviços comunitários nas áreas de educação, saúde, segurança e justiça. Em Portugal metade do poder de compra está concentrado em 5,3 % do território. Em 2007 nos rankings das 5000 melhores PME 45,7 % destas estavam localizada na região de Lisboa e Vale do Tejo”, diz Jorge Nunes.

Cultura centralista

Jorge Nunes refere que “a cultura centralista em Portugal é demasiado forte, e tem ao longo de décadas contribuindo para fortes desigualdades entre regiões e cidadãos, retirando gente ao interior do país e fragilizando a actividade económica”.

Lembrou que “ durante séculos o interior contribuiu com todos os recursos possíveis para o país, e já em período de paz ficou entregue a si próprio e cada vez mais fragilizado, uma verdadeira injustiça, e um erro estratégico no âmbito a soberania”.

Jorge Nunes frisa que “ o conceito de território exige a delimitação de um Estado sob o qual é exercida a soberania enquanto poder legislativo, executivo e judicial, pelo que não deve ser abandonado, esquecendo-se a história e a identidade sem as quais não há futuro”.

Também o território rural do interior está votado ao abandono num claro sinal do nosso subdesenvolvimento. Há cerca de 25 anos os agricultores obtinham 76,3 % do seu rendimento na actividade. Actualmente cerca de dois terços dos rendimentos têm origem nos subsídios, e só um terço na venda de produtos

“Muito recentemente referia-me um jovem agricultor que estava com vontade da filha acabar o curso para abandonar a actividade, dizendo-me que para se dar ao luxo de tomar um café na aldeia tem de vender dois quilogramas de azeitona”, exemplifica Jorge Nunes o sentimento de quem persiste no sector agrícola.

O autarca mostrou no Fórum um mapa de Portugal onde se verifica que o país parece ter uma espécie de arquipélago de desenvolvimento. Nesse mapa vê-se que os concelhos com índices de desenvolvimento positivos formam uma espécie de arquipélago constituído por quatro grandes ilhas, outras ilhas pequenas e algumas ilhotas dispersas.

O autarca chamou a atenção para o facto da grande maioria dos concelhos estarem como que imersos a nível do seu desenvolvimento ainda que com situações diferentes. A imagem construída é, assim, fortemente elucidativa das fortes assimetrias regionais e do interior, uma situação que mina a coesão nacional e empobrece o país.

“A imagem foi construída com dados de 2001, mas com dados actuais seria tão ou mais evidente. As desigualdades não são apenas um efeito mas, fundamentalmente, a causa do nosso atraso e um travão à coesão e ao desenvolvimento. Não sendo pois aceitável que se perpetuem pois são geradoras de novas fragilidades que acentuam um país cada vez mais desigual, logo mais endividado e em rota prolongada de divergência com os parceiros da União Europeia”, alerta o autarca de Bragança.

“Esperávamos que com a integração na União Europeia, e com as significativas ajudas comunitárias, as assimetrias se esbatessem como aconteceu no país vizinho”, dando como exemplo Galiza e Leão em que isso aconteceu, contrariamente à região Norte de Portugal, apesar de serem territórios contíguos.

Vendo alguns indicadores de contas regionais verifica-se que após 20 anos de integração na Europa, e com 5,83 milhões de euros de ajudas por dia para o desenvolvimento e para a coesão – fundos que proporcionaram ao país inquestionavelmente um desenvolvimento a nível do ensino ou das infra-estruturas básicas – não se entende que Portugal seja hoje tão desigual.

“Constatamos que Portugal tem hoje um PIB per capita que é 57 % da média do da União Europeia a Quinze. E penso que em 2013 as diferenças ainda serão maiores, apesar de com o QREN irmos beneficiar de 8,74 milhões de euros por dia, sendo estes prioritariamente dirigidos para a convergência com o objectivo de alavancar uma agenda de modernização e promover o emprego, o crescimento a competitividade e a coesão”, referiu.

Face a isto deixou no Fórum as seguintes questões: “as desigualdades vão persistir e acentuar-se?”. Continuarão a realizar-se investimentos desnecessários no litoral para esvaziar ainda mais o interior? “

Segundo o autarca “ é possível com uma visão política diferente para o país “ alterar-se esta situação. Frisa mesmo que “ com um novo enquadramento político Portugal deve integra-se no pelotão de países inovadores com tecnologias limpas e amigas do ambiente, e que estas são uma oportunidade para o país e para o interior”.

Jorge Nunes frisou que “apostar no desenvolvimento do interior do pais é um desígnio de boa estratégia política, um acto de coragem em que o interior deve ser encarado não como um problema mas como uma mais valia estratégica.

O autarca refere que “nove das dez NUT III de fronteira (retirada a NUT Algarve) com PIB per capita inferior a 90 % da média nacional, representam 50 % do território, mas só 10,74 % do PIB nacional”.

Jorge Nunes adiantou algumas medidas para se inverter a situação, designadamente a atribuição às NUT III – em que os índices de convergência sejam inferiores a 90 % da média nacional – o estatuto jurídico de interioridade, tal com acontece nas regiões autónomas de Açores e Madeira que têm estatuto de insularidade. Defende, assim, a estruturação de uma rede média de cidades transfronteiriças dotadas de factores de competitividade e de inovação. Medidas fiscais eficazes e suficientemente atractivas para o investimento como a redução de IRC para unidades exportadoras, e do IVA e do ISP para os valores praticados em Espanha. Defende, também, um IRS de 50% para os cidadãos que trabalhem nestas zonas abrangidas pelo estatuto de interioridade. Quer ainda uma nova orientação para a agricultura na sua vertente económica mas também ambiental.

“É preciso ainda dar voz ao interior e dar um salto qualitativo nas especificidades regionais”, diz.

O autarca defendeu que “é necessário colocar na agenda política a criação de regiões administrativas como base apropriada nas reformas da administração pública, e acredita ser necessário mudar a actual política de um governo centralizado para um modelo descentralizado que dê impulso, representatividade e liderança às regiões”.


Luísa Roseira: “deverá haver uma composição do órgão executivo municipal similar ao governo, no sentido de que o presidente da câmara tenha total liberdade para nomear os seus vereadores”

Luísa Roseira realçou o facto de se estar a discutir neste Fórum um tema muito complexo, mas também muito aliciante. Para esta jurista a “ausência de desenvolvimento no país, e a situação do interior, derivam de factores como a demografia, a fragilização da base económica e da própria diminuição do peso do sector agrícola na economia nacional. Estes factores levaram a uma insularização do interior, e as tradicionais economias de proximidade tornaram-se economias de distância”.

No Fórum propôs que “ se perspectivasse a reforma do Estado como vector de solução para a redução da desigualdade existente. Nesse sentido, o território é essencial para pensarmos as políticas públicas no sentido de contribuírem para a coesão económica e social. Para isso, devem ser pensadas em função da organização do território como um todo, e como tal contribuirmos para a eliminação de desigualdades no país”.

Para Luísa Roseira “ a reforma do Estado pode ser perspectivada de duas formas, a reforma material e uma reforma formal”. Em seu entender “a reforma material tem a ver com a divisão das funções do Estado, ou seja definir o que o Estado deve fazer e pagar, aquilo que o Estado deve pagar mas não fazer, e aquilo que o Estado não deve pagar nem fazer”.

Defende mesmo que “ esta é a questão fundamental”, uma vez que “sem se fazer a definição deste tipo de função qualquer distribuição da máquina orgânica estadual não tem sentido”, chamando ainda a atenção para a existência de funções basilares do Estado como a de Soberania, ou a de regulação ou de estabilização económica e de redistribuição.

“Fora isso”, adverte, “há um a questão de natureza histórica, pois o verdadeiro Estado social só foi construído nos pós 25 de Abril quando na maioria dos países o foi no pós II Grande Guerra. Ou seja, nos anos 70 a maioria dos países já estava a caminhar na construção do Estado pós social, sendo que em determinados sectores de actividade ainda existe um excesso de intervenção estadual”.

Para Luísa Roseira “a revisão das funções do Estado neste contexto de crise é hoje complexo, mas é um problema que temos de trabalhar e de abordar, pois sem a revisão de funções qualquer reorganização da nossa estrutura peca por ter um problema de base substancial”.

Considerando que “ temos de definir a que entidade compete o desenvolvimento dessas mesmas competências e atribuições” a jurista optou por fazer uma abordagem às autarquias locais.

No quadro constitucional consagram-se as freguesias, os municípios e as regiões administrativas, ou seja estas últimas não estão instituídas, mas são autarquias locais.

A questão autárquica

As autarquias locais têm na sua génese quatro princípios fundamentos, a autonomia local, o da subsidiariedade, da descentralização territorial ou administrativa e, por fim, o da coesão territorial.

Relativamente ao princípio da subsidiariedade considera “ que é importante ressalvarmos que o mesmo quer dizer que as entidades locais devem apostar no desenvolvimento de todos os interesses e necessidades das populações locais, e só não o deverão fazer quando não tiverem meios ou recursos para isso”. Ou seja, “ só nesse sentido é que será chamada a administração central a intervir”.

Hoje os municípios e freguesias têm já um conjunto larguíssimo de atribuições. No quadro das autarquias locais é necessário saber se o município, que é a autarquia paradigma, tem os meios necessários nos vertentes políticos e financeira para exercerem essas mesmas atribuições.

Luísa Roseira é critica da lei existente sobre a eleição dos órgãos autárquicos “pois é a única lei da Europa com dupla legitimação quer do poder deliberativo, assembleia municipal, quer no executivo, câmara municipal”. Lembra que existe uma razão histórica para esse facto, ou seja o défice de Democracia que existia antes do 25 de Abril levou o legislador português a optar pela dupla legitimação. “Mas nos órgãos executivos e de gestão de serviços públicos de resolução de problemas concretos o sistema não tem qualquer lógica”, refere, adiantando defender “ que deverá haver uma composição do órgão executivo municipal similar ao governo, no sentido de que o presidente da câmara tenha total liberdade para nomear os seus vereadores”. Por outro lado, diz que devem ser reforçados os poderes da assembleia municipal que deverá passar a ser o verdadeiro órgão de debate político.

Sobre o financiamento autárquico considera evidente que para os municípios terem novas competências devem ter os meios adequados para as exercer.

A jurista adianta, ainda, que “os recursos devem ser distribuídos com equidade, favorecendo as regiões com menores rendimentos, e devem ser estáveis e previsíveis”. Ou seja, “há necessidade de cruzar alterações ao sistema de financiamento das autarquias com os ciclos eleitorais. Não deve haver uma alteração à lei de financiamento às autarquias a meio de um ciclo eleitoral. Qualquer alteração deve ser simultânea ao início dos mandatos dos autarcas”, conclui.

Quanto ao tema das regiões administrativas Luísa Roseira lembra que em 1998 os portugueses rejeitaram a regionalização de modo expressivo. “O mapa era extravagante e obtuso e levou também à rejeição por temerem ainda o despesismo que podia estar associado à criação de uma nova autarquia, e de uma nova classe política local”.

Mas, considera que “houve evolução desde 1999 o aumentar das atribuições das autarquias e, ultimamente houve mesmo a divisão territorial da administração desconcentrada”.

Hoje temos um mapa das NUT que correspondem a cinco regiões, e que tal como acontece em Espanha, França e Itália a média das regiões intermédias tem cerca de 2 ou 3 milhões de habitantes. Ou seja, é já hoje muito similar ao demais países europeus.

Luísa Roseira analisa a questão da necessidade da existência em Portugal de regiões administrativas considerando que é certo “que existem hoje défices a nível de coordenação económica, social e mesmo de transportes”. Para além, disso defende que “há um conjunto de equipamentos em relação aos quais não tem qualquer lógica serem geridos numa escala municipal e deviam ter escala regional como os aeroportos, hospitais e universidades”. Realçou ainda a questão dos investimentos públicos numa óptica de planeamento regional.

Processo de regionalização é difícil

Luísa Roseira lembrou que o processo de regionalização será longo e difícil, e o seu sucesso depende de muita informação, debate e reflexão.

“Os portugueses precisam de saber que a regionalização não pode ser um cheque em branco, e devem saber quais os poderes que passarão para as estruturas regionais, bem como saber exactamente quais as suas áreas de intervenção e as suas formas de financiamento. É importante que a regionalização não represente um acréscimo de despesa pública a nível nacional” realça.

A jurista frisou mesmo que neste momento “não há qualquer margem de manobra para ainda se aumentar os impostos que são cobrados aos portugueses”. Por outro lado “com a regionalização não se pode criar uma nova classe política” adiantando que esta deve passar sim “ pela redistribuição de técnicos que estão a mais na administração central para essas novas entidades regionais a criar”.


Couto dos Santos: “a política deve ser feita com ética, com verdade e com frontalidade, e infelizmente não se tem assistido a isso”

Couto dos Santos gestor e ex-ministro do PSD saudou desde logo a cidade de Viseu por ter sabido encontrar formas de reagir aos problemas criados pela centralização do poder, através de pólos de desenvolvimento que são uma referência.

O ex-ministro de Cavaco Silva explicou que se sentiu atraído por ir falar no Fórum Falar Verdade assumindo estar “cansado de ouvir tanta mentira em Portugal”. Em seu entender “ a política deve ser feita com ética, com verdade e com frontalidade, e infelizmente não se tem assistido a isso”.

Couto dos Santos trouxe uma abordagem centrada nas assimetrias regionais dando o caso de Esposende, onde preside à assembleia municipal, e onde os indicadores são mais baixos dos existentes nalgumas zonas do interior.

“Hoje o litoral minhoto pode ser considerado ao mesmo nível das regiões pobres do interior. Isto mostra que o país está a evoluir cada vez mais para enormes assimetrias nomeadamente em relação a Lisboa”, refere.

Adiantou vários indicadores segundo os quais “nos últimas anos viu-se que as regiões do Norte e Centro a nível do seu PIB per capita estão nas últimas seis regiões da União Europeia a 27. A nível nacional essas regiões são as mais pobres do país, isto apesar de na região Norte e Centro viverem 57 % da população residente. Por outro lado, ali estão 74 % das empresas da indústria transformadora, pelo que se pergunta as razões desta pobreza”.

Couto dos Santos deixou várias reflexões que adiantam explicações para este problema, alertando para “a centralização da tomada de decisão política e administrativa”.

Disse que cada vez mais “se assiste a uma situação em que tudo passa por Lisboa, com reforço dos serviços da administração nas regiões”. Denuncia uma rotina permanente do chamado “visto e homologação de Lisboa, o que para a actividade económica é desastroso”. Ou seja, “perde-se tempo e dinheiro, e temos de pedir por favor para despachar aquilo a que temos direito”.

Considerou mesmo que este é um dos factores que leva a que haja desertificação no interior, e que provoca maiores assimetrias, e leva as pessoas e os empresários a revoltarem-se.

O ex-ministro lembrou que fez campanha contra a regionalização mas que, nos últimos quatro anos, passou "a ser regionalista e a não gostar das maiorias absolutas" adiantando mesmo que estas lhe “provocam uma azia”.

Por isso, defendeu ser hoje “ defensor de uma regionalização sem custos”, frisando que “ o que se tira de Lisboa dá para se criar as regiões”. Sugeriu mesmo que pode haver menos deputados, ministros ou secretários de Estado, e referiu que o presidente de um Junta espanhola dizia não entender como é que tinha um PIB superior ao português e tinha seis secretários, enquanto Portugal tinha quase 20 ministros e cerca de 60 secretários de Estado. Segundo Couto dos Santos isto só acontece “por ser ter concentrado tudo em Lisboa”.

A segunda reflexão que deixou no Fórum tem a ver com a política do governo, denunciando a interferência política na economia. Considerou mesmo “que nunca em Portugal houve como hoje tanta interferência na vida económica por parte dos políticos”.

Couto dos Santos disse que se “vive numa democracia de um só sentido” com os conselhos de ministros a reunirem-se, os directores gerais a irem aos ministros para receberem instruções e as decisões a serem tomadas e só depois a serem anunciadas aos portugueses”. Para além disso, lembra que “ o Estado tem neste momento ao seu dispor cerca de 50 % da riqueza que se produz, a que acresce o sector empresarial que também comanda mesmo em sectores estratégicos da Economia, além de subsídios para distribuir e autorizações para dar.

O esmagador peso do Estado

Couto dos Santos lamentou que "cada vez mais" todos os assuntos passem por Lisboa, o que "para a actividade económica é desastroso", e aludiu mesmo à existência de uma corte na capital. "A corte por onde têm que passar todos aqueles que querem ter oportunidades ou projectos de investimento. Custa-me, por vezes, assistir a alguma subserviência de quem já tem tanto dinheiro e não precisa", acrescentou, lembrando que em tempos de crise ninguém vai protestar. Mas garantiu que lhe custa “ ver quem já tem tanto dinheiro não desmontar esta subserviência”, garantindo ser ”tempo de se ter alguma vergonha e sabermos fazer as coisas com dignidade, lembrando que há valores mais importantes que o dinheiro, e os empresários não podem ser só frequentadores dos corredores do poder”. Lembrou a este propósito que dos países da OCDE Portugal é o segundo em que o Estado tem mais poder sobre a Economia.

Couto dos Santos frisou, ainda, que entre1995 e 2002 se aumentaram as assimetrias de Portugal, pois foi uma fase em que o país se endividou e começaram a aparecer novas actividades e empresas pertencentes a grupos económicos a operar na área dos chamados bens protegidos da concorrência internacional, ou seja os não transaccionáveis como a saúde, energia, telecomunicações e transportes. Isso fez com que os grandes grupos, designadamente a banca, começassem a ir buscar os meios financeiros libertos pela indústria, com os empresários a diversificarem injectando dinheiro nessas actividades para o mercado interno.

Couto dos Santos refere que “ a falta de liquidez foi gerada neste processo” e que hoje esta “ se sente muito mais, levando a uma falta de capacidade de intervenção das PME que, sobretudo as da indústria transformadora, são a grande sustentabilidade da economia”.

“Claro que essas aventuras se pagam caro e atingem directamente as regiões mais desfavorecidas, reforçando a centralização do poder em Lisboa” refere.
Quanto à regionalização adiantou que “em momento de crise, quando não há dinheiro, se deve procurar arrumar a casa e depois dela arrumada então tratar das coisas", afirmou, defendendo que agora é tempo "de mudar de política e de Governo".

A discussão sobre a regionalização não é, de momento, prioritária, ainda que seja um assunto que está sempre na agenda política. Atendendo ao momento de crise que o país atravessa, de grandes problemas estruturais, não é oportuno avançar para essa discussão.